Aquela gare, triste e pobre, tirara-me o imaginário da cidade luz.
- E agora? – perguntou o Zuca.
- Bem, agora tenho aqui duas moradas de amigos. A do Tó e a do Ilídio – respondi.
O Ilídio tinha residido perto de nós, na Amadora e tinha-o encontrado alguns dias antes, de férias em Portugal, quando me deu a sua morada sem nunca imaginar que o viria a procurar em França.
O Tó morou na mesma rua que nós e tinha ido para junto da mãe, que há alguns anos vivia em Paris. Ambos eram nossos amigos, mas não muito.
Resolvi começar pelo Ilídio.
Procurámos no mapa do Metro e verificámos que Saint Cloud ficava nos arredores de Paris.
Remexi os bolsos, Zuca fez o mesmo e juntámos o resto dos francos ainda em nosso poder. Não fazíamos nenhuma ideia de para quantos dias duraria este dinheiro.
Comecei a fazer perguntas e percebi logo que afinal não sabia tanto como julgava. Aquilo que tinha aprendido era o suficiente, mas não tinha nada a ver com a realidade.
Parecia uma vaca espanhola a falar francês.
Acabámos por escolher o autocarro, pois este levar-nos-ia mais próximo da morada desejada.
Uma vez aí chegados, descobrimos o Ilídio que ficou embaraçado por nos ver. Vi os seus olhos dizerem: - é pá, quando te dei a minha morada, estava a brincar.
Albergar-nos não fazia parte dos planos dos seus pais, que nem nos conheciam.
Depois do primeiro impacto e de uma conversa de circunstância, onde explicámos que o motivo do nosso salto tinha sido fugir à tropa e procurar um vida melhor, lá fomos dizendo o que acontecera e porque estávamos ali. Afinal também eles lá estavam por motivos semelhantes.
Mostraram-nos as condições exíguas em que viviam e ao lado tinham um barracão, desprovido de tudo, onde mais três portugueses viviam em permanência. Um tanque de lavar roupa, uma mesa e umas maletas arrumadas num canto, eram a mobília destes garimpeiros da estranja. Um conjunto de tijolos soltos sobrepostos, faziam de aparador e guardavam comida enlatada. Os três desconhecidos abriram mais uma lata de “cassoulet” (feijoada) e foi um ver se te avias, já que o diálogo não era muito.
O futuro não parecia risonho.
Um velho colchão estirado no chão de cimento, serviu-nos de leito nupcial.
Era a nossa primeira noite juntos. Estava condenado a dormir com o Zuca.
Assim foi mais um dia e outro ainda. As perspectivas de arranjar trabalho não eram muitas e o ambiente cortava fino.
Decidi procurar o Tó. Talvez o vento soprasse de feição.
Recontámos o nosso dinheiro e constatámos que, a um ritmo de dois litros de leite e duas “baguettes” de pão por dia, teríamos alimento para quinze dias. Com alguma coisa que caísse do céu, iríamos ficar vivos pelo menos três semanas.
Fiquei aliviado por saber que tínhamos um prazo de duração tão longo.
- E agora? – perguntou o Zuca.
- Bem, agora tenho aqui duas moradas de amigos. A do Tó e a do Ilídio – respondi.
O Ilídio tinha residido perto de nós, na Amadora e tinha-o encontrado alguns dias antes, de férias em Portugal, quando me deu a sua morada sem nunca imaginar que o viria a procurar em França.
O Tó morou na mesma rua que nós e tinha ido para junto da mãe, que há alguns anos vivia em Paris. Ambos eram nossos amigos, mas não muito.
Resolvi começar pelo Ilídio.
Procurámos no mapa do Metro e verificámos que Saint Cloud ficava nos arredores de Paris.
Remexi os bolsos, Zuca fez o mesmo e juntámos o resto dos francos ainda em nosso poder. Não fazíamos nenhuma ideia de para quantos dias duraria este dinheiro.
Comecei a fazer perguntas e percebi logo que afinal não sabia tanto como julgava. Aquilo que tinha aprendido era o suficiente, mas não tinha nada a ver com a realidade.
Parecia uma vaca espanhola a falar francês.
Acabámos por escolher o autocarro, pois este levar-nos-ia mais próximo da morada desejada.
Uma vez aí chegados, descobrimos o Ilídio que ficou embaraçado por nos ver. Vi os seus olhos dizerem: - é pá, quando te dei a minha morada, estava a brincar.
Albergar-nos não fazia parte dos planos dos seus pais, que nem nos conheciam.
Depois do primeiro impacto e de uma conversa de circunstância, onde explicámos que o motivo do nosso salto tinha sido fugir à tropa e procurar um vida melhor, lá fomos dizendo o que acontecera e porque estávamos ali. Afinal também eles lá estavam por motivos semelhantes.
Mostraram-nos as condições exíguas em que viviam e ao lado tinham um barracão, desprovido de tudo, onde mais três portugueses viviam em permanência. Um tanque de lavar roupa, uma mesa e umas maletas arrumadas num canto, eram a mobília destes garimpeiros da estranja. Um conjunto de tijolos soltos sobrepostos, faziam de aparador e guardavam comida enlatada. Os três desconhecidos abriram mais uma lata de “cassoulet” (feijoada) e foi um ver se te avias, já que o diálogo não era muito.
O futuro não parecia risonho.
Um velho colchão estirado no chão de cimento, serviu-nos de leito nupcial.
Era a nossa primeira noite juntos. Estava condenado a dormir com o Zuca.
Assim foi mais um dia e outro ainda. As perspectivas de arranjar trabalho não eram muitas e o ambiente cortava fino.
Decidi procurar o Tó. Talvez o vento soprasse de feição.
Recontámos o nosso dinheiro e constatámos que, a um ritmo de dois litros de leite e duas “baguettes” de pão por dia, teríamos alimento para quinze dias. Com alguma coisa que caísse do céu, iríamos ficar vivos pelo menos três semanas.
Fiquei aliviado por saber que tínhamos um prazo de duração tão longo.
Algures no meio de Paris, encontrámos a casa do Tó. Este não estava em casa. Recebeu-nos a sua condoída mãe que, depois de ouvir alguns dos nossos anseios, nos arranjou uma solução.
As águas furtadas do número vinte e dois da Rue Jouffroy, no quarteirão dezassete, eram as arrecadações dos inquilinos do prédio. A cada um, pertencia uma. A mãe do Tó trabalhava na casa dum desses inquilinos e a arrecadação deste estava vazia.
Dois metros de largura, por quatro de comprimento, era o tamanho deste refúgio que já me parecia uma suite. Comparado com o barracão do Ilídio, isto era um hotel do Dubai. O único senão, era o da cama ser dum corpo só. Teríamos de dormir à vez. Em caso de desespero dormiríamos como dois apaixonados. Agarradinhos. Respirei de alívio. Já não dormiriamos na rua.
Bem no coração de Paris, abri a pequena janela, estiquei o braço e a Torre Eiffel saudou-me!
As águas furtadas do número vinte e dois da Rue Jouffroy, no quarteirão dezassete, eram as arrecadações dos inquilinos do prédio. A cada um, pertencia uma. A mãe do Tó trabalhava na casa dum desses inquilinos e a arrecadação deste estava vazia.
Dois metros de largura, por quatro de comprimento, era o tamanho deste refúgio que já me parecia uma suite. Comparado com o barracão do Ilídio, isto era um hotel do Dubai. O único senão, era o da cama ser dum corpo só. Teríamos de dormir à vez. Em caso de desespero dormiríamos como dois apaixonados. Agarradinhos. Respirei de alívio. Já não dormiriamos na rua.
Bem no coração de Paris, abri a pequena janela, estiquei o braço e a Torre Eiffel saudou-me!
3 comentários:
estou sem palavras.
ÉS um VENCEDOR :)
"Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo."
(Fernando Pessoa).
Não preciso dizer mais nada.
I.R.
"Audaces Fortuna Juvat"
(Vergílio)
Enviar um comentário