27 de dezembro de 2020

Obrigado, Cristiano Ronaldo!

 Parabéns ao melhor jogador do mundo e do século!

Obrigado, Cristiano Ronaldo, por esta maravilhosa recordação!







23 de dezembro de 2020

Continho de Natal

 


Naquela noite de frio e chuva, previa-se que o Menino Jesus não iria colocar prendas no sapatinho!
Os urros que a serra vomitava eram por demais assustadores para quem queria acreditar que um menino iria chegar tolhido de medo e frio, mais a precisar de ajuda que a trazer alegrias.
Era impossível que alguém tão integérrimo e desnudo, pudesse andar na rua com tamanho temporal e as fortes bátegas que caíam não iam deixar ouvi-lo escorregar pela chaminé.
Não se conhecia o pai Natal, nem tal nome jamais se ouvira.
A ansiedade minava a ignota mente do menino terreno, enquanto a probabilidade dum milagre acontecer pairava num semicerrar de olhos, numa luta incessante contra Morfeu, que aos poucos o foi embalando em seus braços.
Na manhã seguinte, dois pequenos embrulhos de papel almaço faziam dissipar a dúvida e a tristeza de quem adormecera na esperança dum milagre, tantas vezes propalado.
Dentro dum embrulho, um par de meias, no outro, um boneco bem mais bonito que este.
Finalmente, o menino tinha um boneco só seu.
Ana, sua mãe, dera o que tinha e também o que a filhó a inspirara.
Hoje, senti uma indómita vontade de recrear o primeiro e único boneco, que o tempo não apagou.
A mãe, era a minha! O menino, era eu!

17 de dezembro de 2020

O tinteiro do Prof. Francisco Gentil




Esta museológica peça, cujo nome desconheço, na realidade era o conjunto do tinteiro da caneta de aparo, com que o fantástico médico-cirurgião escrevia. Um tinteiro, afinal.

Fazia parte do espólio do fundador do IPO - Instituto Português de Oncologia. Prof. Francisco Soares Branco Gentil.

Ter-lhe-á sido oferecida em 1900, altura em que terminou o seu curso de medicina.

A mim, foi oferecida há cinquenta anos, pela sua neta, Helena Maria da Costa de Sousa Macedo Gentil Vaz da Silva, uma das primeiras e mais influentes jornalistas culturais portuguesas, acérrima opositora ao regime salazarista.

Mais tarde viria a ser madrinha de baptismo do meu filho mais velho.

Ou seja, a parte oval, era para colocar no descanso, a caneta de madeira com o aparo em metal.

À direita,  o tinteiro com a tinta onde ia molhando o aparo.

À esquerda, o reservatório dum pó que se polvilhava em cima do que se tinha acabado de escrever, pois a tinta demorava a secar.

Ao centro, a campainha para chamar  a enfermeira, ou a secretária.

A este grande médico, primeiro a combater esta terrível doença, com a criação do IPO, e primeiro a defender as regalias e direitos dos enfermeiros, a minha vénia a toda a classe que nos minimiza os queixumes, já que a vida nas suas mãos não está.

Deste tinteiro sairam sentenças e desenganos, mas também certezas de vidas que renasceram das cinzas.

Aqui ao lado, olho com carinho tão significativa relíquia, revendo a história das mãos por quem passou.

Obrigado, Helena Gentil Vaz da Silva! 

Os querubins aguardam que, juntos toquemos o sininho!

24 de novembro de 2020

Afetos - apenas!

Sou um homem de afectos!
Os dias vão passando e faltam-me os beijos e os abraços! E às vezes, abraço a mim mesmo, enganando assim essa indómita vontade de o fazer a outrem.
Talvez já tenha esquecido esse gesto tão forte! Talvez já tenha olvidado a força de cada abraço, o sabor de cada beijo, a ternura de quem se ama.
A quem adoro e a quem amo, o meu abraço e os meus beijos!
Deixo o gesto!



7 de novembro de 2020

A minha lamparina!

 

Este mini-fogão/lamparina, tem uma história! A minha!
Quando eu era pequenino ... tinha treze anos, a minha mãe comprou-o, em segunda mão, para eu levar todos os dias para o trabalho e aquecer a marmita com o almoço. Cabia mesmo à conta num saco, em moda na altura, onde pouco mais cabia que o fogão e a marmita, embrulhados em velhos jornais.
Depois, numa taberna lá perto, Rua Pascoal de Melo e mais tarde na Rua de S. Julião, em Lisboa, pagava um tostão para me deixarem aquecer a dita e sentar-me a almoçar numa longa mesa, onde mais gente procedia de igual modo.
E era uma odisseia apanhar um eléctrico que tivesse lugares vagos na pendura, sem falar dos transbordos vários que ia fazendo, na quase sempre bem sucedida fuga ao "picas", que via nos putos a lepra da época!
Nestas fugas várias, não raro era entornar a marmita, lambuzando a lancheira dum molho já meio coalhado.
Os dez tostões que mãe Ana me dava todos os dias, eram melhor rentabilizados se poupasse os sete tostões do bilhete-operário, mas isso implicava saltitar de eléctrico em eléctrico, o que amiúde acontecia e com o perigo que daí advinha.
E quando o "picas" me apanhava, obrigava-me a sair e dizia que me dava uma lamparina, logo ficava eu sem saber se era uma estalada ou um fogão novo.
Das vezes que regressei a casa a pé, da Praça do Chile à Amadora, já não reza a história.
Era a idade das trevas! Foi há cinquenta e sete anos e apesar de tudo, era muito feliz com quase nada!
O meu mini-fogão, não se lembra da idade que tem!
Sabe sim, que apenas tem quinze centímetros de altura e que se lembra de mim!

5 de fevereiro de 2020

Anjos brancos



O homem que está nesta foto é o meu pai! 
Era! Já partiu! Há muito!

Foi este o quadro com que me deparei, numa das últimas visitas que lhe fiz, já no fim das suas tormentas. 
Não era um final feliz, mas o abraço, a ternura e o apego deste anjo branco, eram já o prenúncio de outras asas que o esperavam, de tão inane a sua ausência.
Pobre pai que foi embora sem já saber quem eram os filhos!
Para lá desta imagem, deixo no éter a minha admiração beatífica por todos os enfermeiros(as), sacerdotes duma sublime profissão, último alento de quem jaze num leito de hospital, numa cama de desespero, num berço de esperança.
A estes(as) anjos brancos e a esta altruísta alva senhora, a supina vénia de quem deles já precisou! 
Eu!