7 de novembro de 2020

A minha lamparina!

 

Este mini-fogão/lamparina, tem uma história! A minha!
Quando eu era pequenino ... tinha treze anos, a minha mãe comprou-o, em segunda mão, para eu levar todos os dias para o trabalho e aquecer a marmita com o almoço. Cabia mesmo à conta num saco, em moda na altura, onde pouco mais cabia que o fogão e a marmita, embrulhados em velhos jornais.
Depois, numa taberna lá perto, Rua Pascoal de Melo e mais tarde na Rua de S. Julião, em Lisboa, pagava um tostão para me deixarem aquecer a dita e sentar-me a almoçar numa longa mesa, onde mais gente procedia de igual modo.
E era uma odisseia apanhar um eléctrico que tivesse lugares vagos na pendura, sem falar dos transbordos vários que ia fazendo, na quase sempre bem sucedida fuga ao "picas", que via nos putos a lepra da época!
Nestas fugas várias, não raro era entornar a marmita, lambuzando a lancheira dum molho já meio coalhado.
Os dez tostões que mãe Ana me dava todos os dias, eram melhor rentabilizados se poupasse os sete tostões do bilhete-operário, mas isso implicava saltitar de eléctrico em eléctrico, o que amiúde acontecia e com o perigo que daí advinha.
E quando o "picas" me apanhava, obrigava-me a sair e dizia que me dava uma lamparina, logo ficava eu sem saber se era uma estalada ou um fogão novo.
Das vezes que regressei a casa a pé, da Praça do Chile à Amadora, já não reza a história.
Era a idade das trevas! Foi há cinquenta e sete anos e apesar de tudo, era muito feliz com quase nada!
O meu mini-fogão, não se lembra da idade que tem!
Sabe sim, que apenas tem quinze centímetros de altura e que se lembra de mim!

Sem comentários: