27 de março de 2013

Padre Motard Zé Fernando - adeus!


Padre Zé Fernando, mais conhecido por Padre Motard, faleceu hoje dia 26 de Março de 2013
 
Há três anos atrás, mandei este recado ao Zé!
Depois disto falámos muitas vezes e brincávamos com a sua doença, já que esta era a fórmula com que ele melhor lidava com a morte.
Em tempos diferentes andámos no mesmo seminário, mas não foi no claustro que os nossos caminhos se cuzaram.
Questionado, um dia, sobre as motos de alta cilindrada que conduzia, disse:
- Até 100 Deus protege-nos! A mais de 100 Deus acolhe-nos!
Grande homem! Enorme Padre, como há poucos! Foste o padre que eu teria sido.
Descansa em paz, meu amigo!
E REPOUSA LÁ NO CÉU ETERNAMENTE!

Zé Fernando é um "gajo do caraças"!
Condenado há cinco anos a uma sentença de apenas mais quatro meses de vida, começou logo aí a lutar contra a doença da moda. É uma espécie de André Moa, com uma vintena de anos a menos.
O Zé Fernando segue à risca o que as medicinas tradicionais e alternativas lhe mandam, pois a mente as deseja e os sentidos as aceitam.
Lutador de rija têmpera, o Zé Fernando é também um "motard" incorrigível e querido por todos, pois a batina e o cabeção que a sua condição de padre lhe conferem, são para usar noutro templo que não o do cidadão rebelde que desafia os ventos. No último fim de semana fez "Portugal de lés a lés" juntamente com um grupo de seiscentos "motards", sempre circulando por estradas secundárias e sem poder ultrapassar uma média de quarenta quilómetros/hora.

No seu sempre alegre sorriso nunca se denota um esgar de desânimo, um uivo de raiva, um gemido de dor. Bonacheirão e brincalhão, deixa em cada esquina um amigo. O Zé Fernando é o estereótipo do padre moderno, aquele que afinal veste a pele dum homem normal tão cheio de virtudes e defeitos.
De tempos a tempos vem a Portugal, onde o acompanhamento da sua doença se vai fazendo e aproveita para visitar o irmão e sacudir a saudade. É lá que a gente se encontra e devora comuns palmilhados caminhos.
Desde que lhe foi diagnosticada a doença passou a viver em Los Angeles, em casa de amigos, onde a esperança tem outro nome e onde tem um grupo de gente boa, que se juntou para ajudar a minorar o seu sofrimento e tentar debelar as metástases espalhadas nos pulmões.
Dizia-me ele há dias: 

Como me sinto mais ou menos bem, a cada dia que acordo penso que ainda poderei ter mais quatro meses de vida, o que é muito bom!Meu caro Zé Fernando, o teu calvário é um rio de esperança que corre para o lado da vida. Nele tentarei navegar ao sabor da brisa que vou enfrentando sabendo que chegará o dia em que estarei do outro lado da barricada e aí lembrar-me-ei de quão enome foi o teu querer, a tua garra, a tua esperança.
Podes calcorrear meio mundo, podes encurtar distâncias, qual luso Estrabão, podes adormecer nas Américas e acordar nas Beiras, mas é a força que de ti emanas que eu desejo para mim.
Últimamente a vida tem-me dado exemplos de coragem como que pressagiando a lei natural das coisas. Com elas vou aprendendo e delas me vou finando.
O fastígio e a sublimação dos Deuses são aquilo que o homem quiser. Tu queres! Logo, os Deuses estarão contigo!

24 de março de 2013

As aventuras de Kim-Kim



Passamos a vida a fazer asneiras, julgando tudo saber e ao chegar onde cheguei, sei nada saber.
Pior ainda, é aos 18 anos julgarmos ser donos do mundo. 



Do meu etéreo livro "Les aventures de Kim-Kim", rebusco os dias que fizeram de mim um homem que um dia partiu, cheio de tudo, à procura de nada.

... Não eram ainda decorridos trinta dias, que eu chegara a Paris. O meu saudoso amigo Martin andava entusiasmadíssimo em mostrar-me “la nuit parisienne”.
Desejoso de descobrir o que estava para lá da noite, levou-me à discoteca que habitualmente frequentava.
Le Touquet, ficava ao fundo dos Campos Elíseos, junto à Concórdia, e viria a tornar-se na minha segunda casa. Eu morava relativamente perto, 15 minutos a pé - 22 bis Rue Jouffroy d'Abbans.

Logo que tinha uns trocos era no Touquet que os aplicava. Sempre com o pensamento em fazer novas conquistas que me permitissem dar poiso às noites de miséria e lua vaga.
Entrámos e vi a noite a fervilhar de corpos entrelaçados na média luz. O desejo imaginava já as mais estereotipadas situações que ali poderiam ocorrer. 
O tipo de música, ora mexida ora lenta, mudava de trinta em trinta minutos. Quando alguém dançava com alguém, já sabia que em princípio teria o mesmo par durante meia hora, o equivalente a mais ou menos meia dúzia de melodias, bastante esticadas.
Fiquei algum tempo a observar os ditames de tal ritual e a perceber qual era ali o meu papel, no sentido de nele me integrar.
O Martin, que lá vivia desde os treze anos, tinha-me prevenido que quando uma miúda aceitasse dançar comigo, isso era meio caminho andado para acabar a noite no seu leito. Para isso era fundamental que a beijasse no segundo ou terceiro “slow”, sob pena de não o fazendo, ser abandonado na pista.
Não conseguindo tirar isso da minha cabeça, já que em Lisboa as coisas não funcionavam bem assim, fui olhando à minha volta e todo
s os rostos me pareciam lindos, com corpos a chamar por mim.
Demonstrando estar à vontade na matéria, mas aflito como quem sobe ao cadafalso, avancei para uns olhos que me aceitavam. E aceitaram. Um aceno de cabeça resolveu a minha incerteza e caminhámos para a pista. Encostou a cabeça no meu ombro e perdemo-nos no meio da “foule”, com a imaginação a saltitar para esbórnias "à la Gardére".
Aznavour cantava “Que c’est triste Venise”. Eu pensava em "Laisse-moi t'aimer"!
Inebriado por aquele momento, fui-me empurrando para a decisão de a beijar, tal era o ritual preciso.
Tem de ser agora, pensei. Estávamos na terceira música e eu tinha de beijá-la. As minhas mãos timidamente evitavam as partes proibidas do seu corpo, já que o respeito vinha antes do desejo. Acariciei-lhe os cabelos, fiz os dedos escorregar no seu rosto, e ... os seus lábios não fugiram dos meus.
Dentro de mim ribombou o supremo trovão da glória. O mundo era meu. 

Pobre Kim que se contentava com tão pouco!
Num beijo depois de outro e outro ainda, assim continuámos até parar aquela roda de embalar.
Sentámo-nos, mão na mão, e descobrimo-nos como quem encontrar-se quer. O paraíso estava tão próximo como o outono que acabara de chegar. C'est en Septembre! 

As horas foram entrando pela manhã e divagado o que havia para divagar, chegou a hora da despedida.
Não sabendo bem como descalçar a bota e precisando de alimentar diálogo, perguntei-lhe em surdina: 

Sylvie, amanhã podemos voltar a encontrar-nos? 
Olhou para mim e meio atónita, riposta de seguida: 
- Amanhã? Mas … não vais dormir comigo esta noite? 
Qual principiante atrapalhado, balbuciei: 
- Claro que sim, mas … sabes, é que … humm!!! Pois claro que vou!!!

Estava dado o passo que me fez correr uma noite num segundo!
Se por ali houvesse um buraco, nele me teria metido. Não fora a média luz do recinto, e a minha ruborizada face teria denunciado o quão imberbe me senti.
Tentando demonstrar o à vontade que não tinha, avancei então para o seu vale de lençóis, qual garanhão que não era.
O dono do mundo que eu pensara ser, não passava afinal dum inóxio menino, com muitos corpos por desbravar.
Merci, Sylvie!

20 de março de 2013

Francisco Rosa - um Homem!


(É isto que eu gosto de te dizer quando se repete mais um aniversário!)

Meu querido amigo! Parabéns!

Lembras-te Xico?
Eras tu um homem e eu para lá caminhava, quando os nossos passos tropeçaram numa qualquer análise mundana que a memória não reteve.
Não foi amor à primeira vista, porque as idades assim o ditavam, nem empatia forçada, porque a tua adiantada geração trilhava por outras veredas.

Ora à esquerda, ora à direita, íamos entrecortando as tardes de bailaricos, com as noites de pecado, que o desejo exigia. Ambos não éramos bailarinos e velhacos julgo que não, também.
Os anos que se seguiram foram olhados com a ideologia que a amizade aceitava. No fundo, os ideais eram os mesmos. Os nomes, bem diferentes.
Há pessoas que entram nas nossas vidas, como a brisa nos verdes prados. Entram ao de leve e deixam para trás um rasto de perfume que nunca mais se esquece. Foi assim que entraste na minha.
As vicissitudes da vida e um Tejo de largas margens, que nos separava, interromperam os diálogos mudos que algumas vezes havíamos tido.
És o talento enorme que as grandes plateias não puderam aplaudir.
A tua portentosa voz e aquele rasgar de gestos mais díspares, que a minha mente havia retido, navegaram no nevoeiro da memória, até ao retomar contínuo do teu convívio.
Contrariamente a todos os outros, foste um amigo em suspensão. Como uma vaga rebelde, a adversidade te levava, a recordação te trazia.
Hoje, que a poeira assentou e os ventos amainaram, tento aproveitar o estado de espírito que a tua presença me transmite e o coração devora.
Meu querido Xico, és o gigantopiteco que a amizade não extingue e ufana-se-me a alma com amigos como tu. 
Como eu gosto de ti!!! Grande actor, grande homem!!!
Francisco Luís Rosa! Xico Luís! Xico! XL!
Villaret, não desdenharia chamar-se assim. 

19 de março de 2013

Tenho saudades - Pai!



A mágoa de te ter visto partir é demasiado recente para imaginar que já não estás perto de mim. 
Foi curto o tempo que te tomei e muito o que me deste. Ficou a faltar, aquilo que o egoísmo nos permite desejar - a eternidade!
Vou dizer-te sempre isto.
Como tenho saudades tuas - pai!

15 de março de 2013

Júlio Amaro- Magia em Paris!

Ele, era um já vivido quarentão. Eu, um miúdo acabado de entrar na vintena de anos.
Júlio Amaro era um homem feito. 
Kim, um homem por fazer.

As multifacetadas virtudes do Amaro permitiam-lhe saltar duma pincelada de aguarela ou óleo, para o voo rasante do insólito. 
Amaro era mestre na arte da pintura, sábio no que reclamava da vida e mago aspirante a Houdini.
Atendendo a estes predicados, aqui deixo uma pequena “estória”, já evocada há alguns anos, mas que reescrevo, por ser umas das minhas preferidas.

Júlio Amaro (faleceu há seis anos) contava sempre esta "maldade" que o puto KIM lhe teria feito!

(Amaro, no meu escritório, três meses antes de morrer)

Amaro tinha sido desafiado para trabalhar nas Editions Vaillant, em Paris, para desenhar aquelas “estórias aos quadradinhos” que fazem o deleite da criançada.
Como eu conhecia razoavelmente bem Paris e ele não falava francês, acompanhei-o nessa aventura, de modo a minimizar os efeitos da língua e costumes, nos seus primeiros tempos na cidade luz.
Assim, um dia já em Paris, regressámos ao nosso hotel, muito rasca e mais velho que Job, algo cansados e gastos por um malvado dia de chuva e frio. 
Enquanto Amaro ficou a esfumaçar no vaivém da largura do quarto, eu espojei-me ao comprido na cama que tinha mais à mão e depressa adormeci.
Amaro, absorto no sonho duma vida melhor, ficou a sorver cigarro após cigarro, rodopiando para trás e para a frente, mergulhado em pensamentos mil, olhando o inerte Kim que parecia dormir o sono dos justos. 

Subitamente a luz do tecto apagou-se. Olhou para cima e cofiando a barba de dias, fica especado a tentar entender o sucedido. Afasta-se um pouco e a luz acende-se. Estica a mão para o interruptor e a luz apaga-se. Amaro estava atónito. Não entendia. Ali ficou vários minutos gesticulando passes mágicos que ora iluminavam o quarto ora o escureciam.
Querendo partilhar tal descoberta comigo, digno duma qualquer bruxa de Salém, acorda-me e diz-me:
Kim, vê bem este meu número de magia que nunca te fiz!

E esticando apenas o braço para a lâmpada, profere a palavra mágica: 
Acende-te! E a luz acendeu-se. 
Apaga-te! E a luz apagou-se. 
Repetiu, uma, duas, três, milhentas vezes.
Eu comecei a ficar aterrado com tamanhos truques do Demo e implorei-lhe:
Amaro, não faças isso! Com essas coisas não se brinca! Estás a meter-me medo!Querendo levar ao limite a descoberta ia dizendo:

- Kim! Sou um mágico do caraças! Ninguém conhece este truque (nem ele). 
E voltava a repetir aquele passe de magia, de estica e encolhe o braço.
Amaro sorria e continuava na dança do acende e apaga. E quanto mais medo eu tinha mais ele se deleitava e vangloriava com seus tamanhos poderes.
Assim ficámos algum tempo até que … eu não podia mais.
Comecei a rir, rir, rir e rebolando na cama caí na carpete. Levantei o braço e mostrei-lhe a pêra (interruptor) que segurava na mão. Era eu que apagava e acendia a luz, julgando ele que eu estava a dormir. 

Meu Deus, acabara de humilhar o grande mágico.

Sorriu primeiro, vociferou depois. Olhou-me com olhos de quem não existe, acendeu novo cigarro, vestiu o sobretudo coçado, levantou-lhe a gola e saiu murmurando guturais sons inatingíveis.
Lá fora, não chovia nem ventava!


Amaro, onde quer que estejas, estala os dedos e faz a magia de voltar para nós.
Perdoa-me amigo!

8 de março de 2013

Às mulheres de todos os dias!


Tal como a mulher, esta é uma das minhas muitas paixões e também um dos mais lindos poemas de amor.
A minha homenagem a todas as mulheres.
Hoje bebo, às mulheres que amo, às que amei, às que me amaram.
E ... às que gostam de mim!
Reviens Serge!



6 de março de 2013

Até que a morte vos separe!


Às vezes - morrer é um convite!
Às vezes - ainda me apetece morrer!


3 de março de 2013

Parabéns - Carlos Carneiro




Meu querido amigo!
A vida é demasiado curta para não se celebrar o momento que assinala mais um ano da mesma.
Vive-o e aproveita a glória efémera, já que chega cedo o dia em que mais ninguém nos conhece. 
Tira daí as ilações que, às vezes, as vedetas não querem entender e esquecem que são simples mortais.
Tens sabido lidar com esse vedetismo e mereces o melhor do mundo, pois isso é o que merece, há vários anos, o melhor jogador do andebol português.
Estarei sempre a teu lado, mesmo quando se finar a ribalta do efémero. 
Parabéns amigo! Parabéns capitão!