25 de dezembro de 2019

O meu Natal!

O meu Natal é apenas o meu Natal.
Faz-me alterar o sentido das palavras, a força do abraço, o calor da exultação o apuramento dos sentidos.
Sei bem que cada um tem os seus gostos musicais, mas o entardecer da vida provoca-me irritação com as músicas de Natal e atira-me para os antípodas desta, a mais nobre!
E a noite é uma partitura inacabada, onde adormeço com colcheias e acordo com semifusas, num universo em dó maior.
Oiço o ribombar de Carl Orff numa extasiada Carmina, Handel numa Saraband de adeus, Bach numa toccata de fuga domingueira, Mozart nos ribeiros das altas montanhas e por fim, a alegria de um hino beethoveniano.
E em sonhos, à minha volta giram querubins nos confins duma sonata ao luar ou no adágio dum qualquer Albinoni.
O meu Natal não está neste mundo! Está nas cordas duma harpa, nas teclas dum Rubinstein, no coração de qualquer homem.
Música - arte que não a minha - mãe de todas as artes, salvai a minha loucura!

15 de dezembro de 2019

Coisas de velho!






Neste enfadonho domingo, andava eu numa fona, no babilónico Colombo, pensando dar-lhe a volta em oitenta dias e julgando por ali refeiçoar, já que apenas pretendia raspar a borda do prato e eis que num hollywoodesco néon vejo vários ingredientes culinários a um euro cada, o que servia os meus intentos. Aguardei então na fila, que mais parecia a Nossa Senhora dos Remédios. Quando chegou a minha vez, muito seguro de mim pedi rebentos de bambu, cogumelos, brócolos, cebola frita e uma imperial. Pensava pagar cinco euros e trinta e cinco cêntimos.
O funcionário pediu-me doze euros e cinco cêntimos.
Afinal o que eu pensava que ia comer era apenas o acompanhamento, não sabia que ainda havia a massa/base.
Fiquei a olhar para o prato, mais fundo que o poço de Jacó e depois de meia dúzia de garfadas, abandonei o dito quase tão cheio como o recebera.
Coisas de velho!

2 de novembro de 2019

Salvatore Adamo - 76 anos!




Salvatore Adamo, fez setenta e seis anos. (01-11-2019)

Foi o trovador da minha infância, a minha primeira paixão por um artista e aquele que me ensinou a falar francês.
E com algumas meninas do meu tempo, embalámo-nos abraçados nas suas melodias, tão cheias de significado e tão românticas.
E desse embalo, recordo que nem saíamos do mesmo sítio, porque dançávamos parados, movimento esse do qual não me arrependo!
Às minhas amigas desse tempo e que agora estão a ler estas palavras, dedico este momento.
Parle moi de mon enfance, mon vieux ruisseau ...
Parabéns, Salvatore!



4 de agosto de 2019

Ik hou van je, Amsterdam!


Foi há cinquenta anos! 
Aqui vivi um tempo, num tempo sem tempo.
Um dos meus filhos esteve em Amsterdão recentemente, procurou o hotel, mas já não existe.
Um hotel fantástico, para jovens e estudantes.
Ik hou van je, Amsterdam!

Koninginneweg 30


23 de julho de 2019

Mãe, mil vezes mãe!




Farias hoje mais um aniversário, mãe!

E eu, pegar-te-ia ao colo para te elevar, tantas as vezes como as que tu o fizeste comigo. 
Beijar-te-ia com a ternura que te não deram. Abraçar-te-ia mesmo que braços eu não tivesse. 
Choraria por ti quando te secassem as lágrimas. Lembrar-me-ia dos teus conselhos e do que recordávamos da tua juventude. Das coisas que me contavas quando atravessavas a vida. Dos Invernos gelados em que me aquecias as noites. Do anoitecer quente de Agosto, em que aninhava a cabeça no teu regaço, sentados na granítica laje da entrada da casa da avó. Da tua mão, a afagar-me os cabelos até ao meu adormecer. Dos figos que a frescura da manhã nos oferecia quando despertava um dia mais. Da melancia que devorávamos aos molhos, qual harmónica bem soprada. Da pequena sesta a que a canícula nos obrigava. Das férias na Beira ao findar do dia, descalços, regando o milho e sentindo a frescura da água do poço nos beijar os pés. 
E depois, da saudade em que a minha ausência, algures no centro do mundo, te afundou. Da distância madrasta que proibia os nossos beijos. Da esperança mútua do meu regresso um dia. Dos teus olhos azuis, rivais dos céus. Da madrugada malvada que te roubou o riso e apagou a alma. 
Julgava ver-te envelhecer. Pensava seres eterna e por ti eternamente me repetirei, tão cedo partiste
E sei que me espreitas por detrás dum véu que um dia cobrirá os dois!
Parabéns Ana! Parabéns mãe, mas ... 
Queria tanto ter-te aqui!

14 de julho de 2019

Onde terminava Lisboa?






Ontem, ao fotografar o Chafariz de Benfica, alguém que reparou no meu acto, chamou-me à atenção para o marco que ali estava. Escusado será dizer que ficámos algum tempo a dissecar o assunto. Logo ali fiz uma pesquisa na net e concluí que, para quem vinha de Benfica, os oito quilómetros terminavam na Praça dos Restauradores, ou seja, Lisboa terminava ali.

Longe vão os anos!
Talvez trezentos!

30 de maio de 2019

Cortei os tomates!


Mal acordara a madrugada já eu irrigava a mente, acariciava o meu reino do tomatal e embebedava em água o pedestal dos tomateiros que vão fazendo o deleite do meu entardecer. 
Inebriado pelo prazer que a natura me vai dando vou decepando as ramas que a canícula vai secando, dando assim mais força às que teimam chegar ao fim da sua missão. 
Afastei a rama, tentando cortar um ramo meio seco, troquei os olhos e zás catrapás pás pás. Cortei um viçoso ramo que entre pequenos tomatinhos e embriões em flor contei dezoito.
Saltou-me um impropério como Pallas Athena da cabeça de Zeus e senti ter guilhotinado um filho.
Fiquei a lamechar-me o dia inteiro e ao regressar a casa voltei ao local do crime e fiz o requiem que os meus tomates mereciam.
Isto só não acontece a quem não tem tomates!




16 de abril de 2019

Requiem - Notre Dame!


Notre Dame - Setembro de 1969!
Do alto da irreverência dum puto de dezoito anos, eis-me no pico da catedral, onde já na altura não era aconselhável subir, quando sonhava ter Paris a meus pés.
Fica-me o marejar dum olhar que não mais verá tal beleza!
Requiem - por ti Notre Dame!
Ao terceiro dia ressuscitarás!