23 de dezembro de 2020

Continho de Natal

 


Naquela noite de frio e chuva, previa-se que o Menino Jesus não iria colocar prendas no sapatinho!
Os urros que a serra vomitava eram por demais assustadores para quem queria acreditar que um menino iria chegar tolhido de medo e frio, mais a precisar de ajuda que a trazer alegrias.
Era impossível que alguém tão integérrimo e desnudo, pudesse andar na rua com tamanho temporal e as fortes bátegas que caíam não iam deixar ouvi-lo escorregar pela chaminé.
Não se conhecia o pai Natal, nem tal nome jamais se ouvira.
A ansiedade minava a ignota mente do menino terreno, enquanto a probabilidade dum milagre acontecer pairava num semicerrar de olhos, numa luta incessante contra Morfeu, que aos poucos o foi embalando em seus braços.
Na manhã seguinte, dois pequenos embrulhos de papel almaço faziam dissipar a dúvida e a tristeza de quem adormecera na esperança dum milagre, tantas vezes propalado.
Dentro dum embrulho, um par de meias, no outro, um boneco bem mais bonito que este.
Finalmente, o menino tinha um boneco só seu.
Ana, sua mãe, dera o que tinha e também o que a filhó a inspirara.
Hoje, senti uma indómita vontade de recrear o primeiro e único boneco, que o tempo não apagou.
A mãe, era a minha! O menino, era eu!

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