O hotel levava-nos todo o pecúlio. Por vezes, era preferível gastar a diária deste, numa noitada no Touquet. Havia sempre a hipótese de, correndo bem, ter onde dormir, sem pagar, correndo mal, ter-me divertido e sair directamente para a fábrica, onde laborava.
A prioridade número um, era ter dinheiro para ir ao Touquet ou a qualquer outro do género. O investimento era garantido. Mais que ter um amor permanente, preocupava-me ter um amor diferente. O lema era, conhecer o máximo possível de amigas. E em cada amiga, havia uma possível amante. E em cada amante, um possível abrigo. Nas condições em que nos conhecíamos, era o mais natural acontecer. Quanto mais amigas tivesse, mais hipóteses tinha de não dormir na rua. Quando deambulava na Bastilha, batia à porta da Pauline. No Trocadero, procurava a Sophie. Na Rue de St Paul, suspirava pela Bogecvic. Olhava sempre em redor, tentando lembrar-me se ali habitava alguma das minhas benfeitoras. E quando me lembrava, quase sempre estavam ocupadas.
Era um sonhador. Julgar que uma linda mulher, estivesse à espera que eu passasse por ali e lhe batesse à porta, era no mínimo uma infantilidade atroz.
O conhecimento travava-se na primeira música, normalmente dançada em slow. A mulher francesa era decidida. Quando queria, ia directa ao assunto e não havia rodeios, o ideal para mim, que não precisava de avanços inglórios. Os anos e o uso confirmaram-no. Julgo ser hoje ainda assim. É a mulher quem quer. O homem apenas deseja.
Sabia que as mulheres gostavam de homens atrevidos, mas eu nunca o seria. Não precisava, nem queria. Rara era a vez, que uma cara bonita me dizia não. Avançava quase sempre, com a certeza da anuência. Os olhos falavam e isso bastava. O jogo de sedução apoderara-se de mim. Abria os braços e pela forma como o seu corpo encaixava no meu, sabia onde me render.
Os vodka-orange eram bebidos em quantidades mínimas, quer porque os recursos eram parcos, quer porque os meus hábitos, a tanto não reclamavam. Isso mantinha-me sóbrio e saciava ilusões.
Finalmente com as finanças cada vez mais debilitadas, acabámos por arranjar outra mansarda. Mais umas águas-furtadas a rebentar a esquina da Avenue de la Grande Armée com o Boulevard Pereire. Um quartito com a mesma área do anterior, fazia agora de nós, emigrantes bem sucedidos.
O local era óptimo. A mil metros do Arco do Triunfo e a dois do Touquet, permitia-me ir até lá e ver em que paravam as modas. Não raras as vezes, encontrava o amor da noite anterior, enrolado nos braços doutro Alain qualquer. Habituara-me a isso. Ninguém era de ninguém. As minhas vestes eram agora mais jovens. Blusões e jeans alternavam com dois fatitos comprados em saldo, em La Samaritaine.
O pior era a lavagem da roupa. Ia à lavandaria do turco, lavar roupa branca e trazia roupa colorida. Era um nabo milagreiro. Misturava tudo. Uma desgraça! Tinha de poupar dinheiro e não ia fazer duas máquinas de roupa. De início não dei importância a isso, depois preocupei-me bastante. É que, despir-me à frente duma conquista, usando cuecas cor de rosa, não era lá muito abonatório para a tarefa que me propunha executar. Apesar de tudo lá continuei a ir, até ao dia que uma senhora, com idade de ser minha mãe, me ajudou em tão ingrata tarefa. Ela própria fez questão de dividir a minha roupa e meter mais moedas noutra máquina, apenas com roupas de cor e certamente com outro programa, já que mais moedas eu não tinha.
O local era óptimo. A mil metros do Arco do Triunfo e a dois do Touquet, permitia-me ir até lá e ver em que paravam as modas. Não raras as vezes, encontrava o amor da noite anterior, enrolado nos braços doutro Alain qualquer. Habituara-me a isso. Ninguém era de ninguém. As minhas vestes eram agora mais jovens. Blusões e jeans alternavam com dois fatitos comprados em saldo, em La Samaritaine.
O pior era a lavagem da roupa. Ia à lavandaria do turco, lavar roupa branca e trazia roupa colorida. Era um nabo milagreiro. Misturava tudo. Uma desgraça! Tinha de poupar dinheiro e não ia fazer duas máquinas de roupa. De início não dei importância a isso, depois preocupei-me bastante. É que, despir-me à frente duma conquista, usando cuecas cor de rosa, não era lá muito abonatório para a tarefa que me propunha executar. Apesar de tudo lá continuei a ir, até ao dia que uma senhora, com idade de ser minha mãe, me ajudou em tão ingrata tarefa. Ela própria fez questão de dividir a minha roupa e meter mais moedas noutra máquina, apenas com roupas de cor e certamente com outro programa, já que mais moedas eu não tinha.
Enquanto a máquina rodava, num vai-vem constante e a espera era a única certeza, o seu olhar rodava-me a cabeça, mais veloz que a centrifugação das roupas que começavam a escorrer. Por dentro, esvaía-me em incertezas, mas pouco fiz para não ceder. Depois, ali perto, num minúsculo apartamento que o tempo esqueceu, como um menino que a mãe leva pela mão, tive de lhe pagar os soldos que a sua experiência exigiu. Um metro e oitenta e quatro de homem e setenta quilos de peso, transformou-se numa tocha de sexo, queimando-lhe o seu corpo mal amado.
4 comentários:
kakakakak
Em que vc se meteu para ter uma roupa intima apresentável...
"juizo era pouco, pois muito fazia mal"
SPUK
"A crónica de um bom malandro"
Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje...
E esta hem!!!
I.R.
isto é k era actividade ;)
muito bem. gostei!
fiquei encantada, com o teu bom coração ( q já sabia q tinhas!)... ajudar uma senhora é sempre muito bonito!
;)
Olá minhas queridas!
Não sou nada um bom malandro! O Mário Zambujal é que era.
Acreditem que é muito complicado falar destas coisas.
Se fosse num livro relataria o que aconteceu a seguir. Aqui não posso fazê-lo. Pareceria que embandeirava um troféu.
Estou a passar por cima de muita coisa. A não ser assim, o blog assemelhar-se-ia a um manual da Kamasutra.
Respondendo à curiosidade da Spuk - a minha actividade principal é SEGUROS.
O meu filho Bruno é que está ligado às artes plásticas.
Beijinhos
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