1 de outubro de 2009

Fernando Pessoa - Entendes-me?

Às vezes – dá-me para isto!

Pode o engenho e arte
No Chiado me descobrir
De mim lá ficou parte
Quem me fazia sorrir

Foram anos, foram tempos
Aqueles que não voltaram
Foram fortes, foram lentos
Aqueles que me marcaram

Por lá me quedei um dia
Quando na vida despertei
No despertar dessa vida
Outra vida eu inventei

Inventei fugas e dores
Partidas e chegadas
Amores e desamores
Estórias tão contadas

Corri mundo sem nada
De tudo me despojei

No nada eu aprendi
Do despojo já não sei

Dormi noites, dormi dias
Noites que eu não dormi
Dos dias que eram vias
Das vias que percorri

Perdi-me depois no tempo
Esqueci de quem eu era
Ao tempo eu dei alento
Ao alento dei a espera

E um dia regressei
Tão triste como parti
Ao mundo o olhar dei
À vida que já vivi

Pessoa, amigo que és
Quero-te a meu lado
Deixa chegar-te aos pés
Perdoa este meu fado


O poema é ridículo
E não é carta de amor
Se não fosse ridículo
Seria carta de dor

26 comentários:

Laura disse...

Já o tens sentado ao teu lado! que mais queres? QUE ELE BEBA UM COPO CONTIGO? ENCHE-O LÁ QUE EU AJUDO A BOTAR ABAIXO... Pessoa, grande Poeta, mas, triste, isolado, muito só, sofredor, e eu que o diga que os Poetas sofrem todos do mesmo mal de falta de amor, ...
Beijinhos, muitos e já agora, essa foto foi tirada onde?---laura

Maria disse...

Kim:
O teu poema a Pessoa, lembrou-me uma noite de há muitos anos, em que depois de ter lido as cartas dele a Ofélia Queiroz, discutia com o meu filho mais velho, o direito de terem publicado as ditas cartas. Para mim, uma carta de amor é demasiado pessoal, para ser lida por terceiros. Não que as considere rídiculas, longe disso. Mas é a alma de duas pessoas a falar de coisas que só aos dois interessam. Levando a coisa para a brincadeira, de rajada, saiu isto:

Requicoquinha

Eu, Pessoa, em Pessoa vos confesso
E, venho declarar humildemente,
Que nunca, nos tempos que fui gente,
Pensei ter a fama, um tal preço.

Quando escrevia, como qualquer Pessoa,
Cartas d’amor, à tal riquicoquinha,
Pensava, alguma vez que a carta minha,
Seria lida por qualquer pessoa?

Como pudeste, “trouchinha de ovos doces”,
Fazer um mal tamanho, a uma Pessoa,
Tão doce, tão sincera, tão meiguinha?

Pessoa, que só queria que tu fosses,
Terna com ela, sincera, leal, boa,
Meu amor, minha vida, minha riquicoquinha!

Maria 1987

Nada tem a ver com o teu sentimental poema, de que muito gostei.
Mas as lembranças surgem sem sabermos como.
Beijinhos

*Lisa_B* disse...

Olá Kim,
estás lindamente nessa foto :-) melhor que a estátua ;-)

A poesia de Fernando Pessoa...nem há como comentar apenas reler e adorar.
beijinhos para todos

mariabesuga disse...

Ah então isso de escrever poesia é contagioso ou por contágio directo assim?!... Pois bem te sentas na mesa do poeta logo desatas a escrever palavras que são poema sem que sejam ridículas não por serem de amor...

Ah!... e as cartas de amor não são ridículas não senhor Amigo Kim!!!...

Beijinhos
Dia Feliz... na companhia da poesia e da família e dos amigos...

Zé do Cão disse...

Kim.
Quem sou eu para falar de amores?
Todavia, pelas dezenas e dezenas de "borrachos" sentados ao lado do Pessoa, no Chiado, acho que ele não tem muitas razão de queixa das enamoradas.
As opiniões dividem-se sobre as cartas ridículas.Se calhar foi por isso que nunca escrevi cartas de amor. Gostava mais de falar ao ouvidinho, quando dançava, separando a minha mão das delas com um lenço branquinho e as mamãs
sentadinhas numa cadeira a deitarem o olho, não fosse o malandreco abusar.
Enfim, tempos que não voltam, tal como a nossa tranquilidade em segurança.
Um abraço

Anónimo disse...

Vemos, através dos olhos dos amigos,tão bem como através dos nossos.
Ouvimos mais atentamente,pensamos com maior profundidade,vamos a países nunca antes vistos.
Precisamos do seu carinho e bondade e ficamos felizes ao descobrir que eles também precisam de nós.
JMR

Je Vois La Vie en Vert disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Je Vois La Vie en Vert disse...

Amigo Kim,

A pessoa Pessoa foi inspiração para ti !

Gostei particularmente do fim porque se não tivesses voltado, não tinhamos o prazer de te conhecer !

Reparei que já não fazes publicações "Às vezes" mas quase todos os dias !
E são sempre (e não às vezes) originais !
Fica, fica ao pé do Poeta, nos ganhamos com isso !


Bisous, mon ami Kim ;D

P.S. Laurinha, Existe uma estátua de Fernando Pessoa no Chiado em Lisboa. Foi aí que tiraram a foto, não foi, Kim?

Teté disse...

Tenho de ir lá, sentar-me ao lado de Pessoa, pode ser que arranje inspiração poética, ihihih! (não me parece nada, mas pronto!)

Mas concordo que todas as cartas de amor são ridículas... pelo menos, aos olhos dos "não envolvidos"... :)))

Beijocas e bom fim de semana, Kim!

Carla D'elvas disse...

[gosto de cruzar os meus olhos nas tuas palavras...]


um beijo embrulhado num sorriso :)

c

Osvaldo disse...

Caro Kim;

Aí está um lado de ti que eu desconhecia,... a poesia.
Mas não é que até tens jeito para poeta!...

Estás na senda dos nossos grandes escribas da poesia e começas a ter grandes admiradores que te seguem até ao Chiado. Por falar em seguidores, quem é esse tão entusiasta que está aí sentado contigo à mesa.
Já o vi em qualquer lado, não lembro onde!!!! rsrsrsrs

Um abraço, Kim.

Osvaldo e Ana

Anónimo disse...

Seve disse...

Aleixo foi ainda maior....e o Povo entende-o.

Kim disse...

LAURA - O Pessoa era alguém de braço dado com a tristeza, o que não é o meu caso (mas já foi). Mesmo quando estava triste, era feliz.
MARIA - Quando revi esta foto, o meu pensamento recuou aos meus tempos da "estranja" e saiu-me esta poesia.
LISA B - olá Lisa. A poesia de Pessoa nem se comenta, porque era boa. Mas esta é minha e escrita em cima do joelho e pode comentar-se. Beijinho para ti e B.
MARIA BESUGA - Escrever poesia não é contagioso. O que foi contagioso para mim foi o facto de eu ter olhado para esta foto minha ao lado das sua estátua e de repente senti nela a tristeza que eu tive muitas vezes, quando vivia fora do país. Pessoa também viveu no estrangeiro e era muito triste e tímido.
ZÉ DO CÃO - Eu adorava escrever cartas de amor e nunca achei que fossem ridículas. O amor pode-se gritar em forma de carta.
JMR - De factoo todos precisamos uns dos outros e eu preciso de ter amigos, quanto mais não seja para poder emprestar a minha ajuda terrena.
VERDINHA - A minha alergria de partir era compativel com a de regressar. Precisava de ir embora para sentir a alegria de voltar. Ainda hoje adoro viajar porque sei que não demoro muito. Aqui é que me sinto bem. Sim, a foto é no Chiado e foi tirada numa noite em que fui redescobrir Lisboa, com a minha querida Estrelinha do Norte (Isabel) e "sus muchachos".
TÉTÉ - senta-te ao lado dele e pode ser que sintas nostalgia e veia poética.
CARLA - Os olhos cruzam-se sempre nas palavras que queremos, quando queremos.
OSVALDO - É como aquela "estóris" de querer saber quem é o senhor de branco que está ao lado do Sr. Silva. Sim já o viste em qualquer lado, foi ao lado de mim. Não é o poeta que eu mais gosto, mas sinto-o pela ausência e timidez. Não costumo fazer poesia, mas pontualmento consigo desafiar-me.
Este poema foi escrito apenas a pensar em mim, desde a partida, que começou no Chiado, foi até ao meio do mundo e regressou com a mesma tristeza com que viveu. Sou nitidamente um homem daqui.
SEVE - Ora aí está um enorme poeta, que devia muito à cultura e nem por isso deixou de ser tão grande.

Anónimo disse...

O Pessoa no Chiado
Bem sentado à sua mesa
Tem o ar esgazeado
De quem perdeu sobremesa

Com um visitante ao lado
Ficou com ar de trocista
Se já estava bem tramado
Só lhe faltava um golpista

Fernando toma cuidado
Que esse gajo é perigoso
E quem está pelo Chiado
Não se pode dar ao gozo

Por isso o teu ar tramado
Perante tamanhas tretas
Triste sorte, triste fado
Pior que o das tranças pretas

Caro Amigo, apessoado,
Foge de ser trampolim
Deixa-te ficar sentado
E manda lixar o Kim!...

Com os melhores comprimentos (com u) e as larguras concomitantes,

O Sicratário giral da SPP* tem a honra de enviara a Vossa Insolência os mais respeitosos abs

Aguardo resposta à maneira, na Travessa
___________
* Suciedade Portuga de Pu...etas

Anónimo disse...

Fiz este clik.
Quadro perfeito.

Beijinho e bom fim de semana.

Isabel

Anónimo disse...

A "amizade"
é como uma chama
acometida
por vento impetuoso
e queremos
conservar acesa
a todo o custo

Por muito polémicos que os temas sejam não valem o seu preço.

Hoje não estou de sotaina, nem em campanha.

Viva o sol ,aproveitem o fim de semana.
Peace an love
Flowers in your head

A new Priest

Anónimo disse...

Não procure colecionar tesouros apenas nesta terra,porque os ladrões podem roubá-lo e o seu tesouro pode envelhecer.
Além disso,não se esqueça de que, quando partir desta terra,aqui deixará tudo,até o seu próprio corpo.
Então,por que ser avarento? Colecione os tesouros das boas obras,do bem que pratica em benefício do próximo, porque essas riquezas o acompanharãoalém do túmulo.
A new Priest

Je Vois La Vie en Vert disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Je Vois La Vie en Vert disse...

Caro amigo Kim,

Depois de ter desabafado no artigo anterior, volto a este para te dizer :
Benditas as cartas de amor que troquei com o meu primeiro, actual e eterno marido senão não estaria a escrever aqui neste momento e não tinha tido o prazer de te conhecer bem como a tua família !

As cartas de amor podem ser ridículas tal como a minha conversa mas há um facto : malgrado as muitas pedras que encontro no meu caminho - e hoje são particularmente dolorosas - continuo a ver a vida em verde !

Beijinhos amigos da

Verdinha

Cristina disse...

Kim e Pessoa, dois grande amigos.
bom fim de semana, Kim,beijinhos.

Anónimo disse...

KIM!!!!!!!!

KAKAKAKAK, EU TAMBÉM ESTIVE NO CHIADO E NÃO PERDI A OPORTUNIDADE DE SENTAR-ME AO LADO DO FERNANDO PESSOA E "TROCAR" ALGUMAS IDÉIAS COM ELE, QUE FOI REGISTRADA TAMBÉM COM UMAS BELAS FOTOS, ATE DE MÃOS DADAS.
KAKAKAKKAK

BEIJOS

SPUK

Paula Raposo disse...

Gostei muito de te ler!!
E quanto às férias...já foram! Beijos.

Laura disse...

Kim, querido Kim, que saudade tenho de todos vós... e ver a poesia, pensei, ah, parece dele, mas não deve ser, mas o rapaz canta, o rapaz isto, o rapaz aquilo e assim...
triste na tristeza sem fim, ah, companheiro querido... posso dizer que sei o que isso é, embora de momento tente a todo o custo, escorraçar a dita para bem longe, e tentar ter ainda mais força para sonhar em alegria, alegria futura sim, um dia!...
Beijinhos e abraços ao meu poeta querido, enorme no tamanho e no sentir, e é por isso que te adoro meu querido Kim!...laura

Laura disse...

Anónimo, exacto, todos precisamos uns dos outros, e sem amigos não somos nada, fico feliz por ter aqui muitos amigos, daqueles especiais, que sabem dar valor à amizade..Beijinho a si...


Verdinha, sei que a estátua é em Lisboa, mas como já não vou lá à muito e quando vou não ando por ali, e quando lá ia muito era mais pequena, enfim, não me lembro já..
Beijinhos da laura

Laura disse...

zé do canito, mau, mau, imagina que uma das tuas namoradinhas, era eu...falavas ao ouvido como? só se fosse para fazer cócegas...ah, malandro eras tu, sem duvidas nenhumas... o que me ri...beijinhos.

Laura disse...

Bom, com a folga do manel no pc...cartas de amor até recebi muitas, nos meus tempos de nina...Pena que não as guardei, mas, o amor guarda-SE CÁ DENTRO... e como nem gostava dos envolvidos, mostrava-as ao chefe, (o meu querido Pai)que se ria de cara à banda, disfarçava o riso enquanto me dizia sériamente; menina, menina...ai ai ai...
Acho que as cartas de amor, passados anos e anos da sua morte, podem ser lidas, podem servir d einspiração a quem não a tem...ehhhhh...Beijinhos Kim, muitos, e, sempre...laura