Era dia 25 de Abril de 2009.
O sonho de ver a homenagem ao meu amigo Júlio Amaro havia-se gorado.
Senti então saudade dalguém, por sinal com nome parecido (José Amaro) há muito a morar no cemitério de Beja e para lá rumei.
A última lembrança que dele tinha era a de um quase alvo ataúde, onde uma pequena janela de vidro deixava ver-lhe o rosto já despido do seu tão quente e enigmático sorriso.
Haviam passado vinte e cinco anos que ali me despedira do meu amigo, deixando-o ladeado por esguios ciprestes, abandonado no frio mármore da tumba.
E nunca mais voltei!
Como que por magia os meus passos dirigiram-se directamente para onde o instinto me levava.
E ali estava o meu amigo Martin, como eu lhe chamava, e Zeca, como outros o conheciam. Um frémito de emoção abanou meio século de vida.
Por momentos recuei aos nossos tempos em Paris, onde ele já vivia quando ali cheguei no final da década de sessenta.
Irmão que não tive e cúmplice do desenrasca era o que estava ali à minha frente. Não mais nos fizemos passar por irmãos nem mais partilhámos divididos corações de lindas donzelas. Alain e Martin eram uno!
Martin partiu cedo, aos trinta e três anos. Um tumor cerebral interrompeu-lhe os sonhos e empurrou para a loucura os pais dum filho só.
Mário e Isilda, seus pais, abandonaram Paris e compraram um pequeno apartamento quase em frente ao cemitério de Beja e nunca mais viveram.
Entrelaçada entre o ferro e o vidro do jazigo, deixei a saudade dum rosa com espinhos.
Voltarei!
À bientôt mon ami!
O sonho de ver a homenagem ao meu amigo Júlio Amaro havia-se gorado.
Senti então saudade dalguém, por sinal com nome parecido (José Amaro) há muito a morar no cemitério de Beja e para lá rumei.
A última lembrança que dele tinha era a de um quase alvo ataúde, onde uma pequena janela de vidro deixava ver-lhe o rosto já despido do seu tão quente e enigmático sorriso.
Haviam passado vinte e cinco anos que ali me despedira do meu amigo, deixando-o ladeado por esguios ciprestes, abandonado no frio mármore da tumba.
E nunca mais voltei!
Como que por magia os meus passos dirigiram-se directamente para onde o instinto me levava.
E ali estava o meu amigo Martin, como eu lhe chamava, e Zeca, como outros o conheciam. Um frémito de emoção abanou meio século de vida.
Por momentos recuei aos nossos tempos em Paris, onde ele já vivia quando ali cheguei no final da década de sessenta.
Irmão que não tive e cúmplice do desenrasca era o que estava ali à minha frente. Não mais nos fizemos passar por irmãos nem mais partilhámos divididos corações de lindas donzelas. Alain e Martin eram uno!
Martin partiu cedo, aos trinta e três anos. Um tumor cerebral interrompeu-lhe os sonhos e empurrou para a loucura os pais dum filho só.
Mário e Isilda, seus pais, abandonaram Paris e compraram um pequeno apartamento quase em frente ao cemitério de Beja e nunca mais viveram.
Entrelaçada entre o ferro e o vidro do jazigo, deixei a saudade dum rosa com espinhos.
Voltarei!
À bientôt mon ami!
11 comentários:
Meu caro Quim.
Afinal não sou só eu a chorar lágrimas a perda do seu melhor amigo.
Também em Novembro de cada ano lá estou fazendo-lhe companhia, falando-lhe a lembrar o tudo de bom que passamos e lamentando um ou outro insucesso.
Quando regresso venho com o coração menos apertado e mais feliz pelo acolhimento que me deu.
Um abraço
Kim:
Eu tive uma amiga assim. Era minha prima. Havia entre nós essa mesma intimidade-unidade. Nunca fomos juntas a Paris, mas era o nosso sonho. Tinhamos todos os planos feitos, faltou-nos a coragem, sobrou-nos o facto de sermos raparigas, o que nesse tempo, pesava. Tinhamos nomes, nós. Moi Juliette elle Margot. Vivemos momentos que ninguém imagina.
Contentámo-nos com a velha trapeira de casa de meus pais, tranformada em atelier de Montmartre. Aí viviamos, ouvindo música francesa, falando francês, lendo Sagan, fumando, trocando sonhos e ideias. Nada aconteceu como pensámos, seguimos outro rumo, mas quando nos víamos, era um desfilar de lembranças do que poderia ter sido.
Quando outro dia fui às Caldas, também deixei um ramo de margaridas entaladas na porta do jazigo, onde numa pequena caixa, que entrevi pelo vidro da porta, estão as cinzas da minha Margot. Junto com elas, estão muitos sonhos, segredos, lembranças, desta que um dia foi Juliette, hoje é Maria. Com as flores, ficou uma lágrima de saudade e revolta, por me ter deixado tão cedo e tão sózinha. Quando morreu, levou com ela, tudo o que sonhámos. A mim, restou-me esta saudade magoada e as lágrimas teimosas, que desde que li o teu post, ainda não pararam de correr.
Mesmo assim, amigo, fomos felizes.
Embora tenham partido cedo, fizeram parte das nossas vidas.
Alain, beijo da Juliette, Petite Marie ou, Maria, como queiras.
Zé do Cão - Sei bem que todos nós temos uma tristeza destas para contar e tu não foges à regra. Tenho a certeza que essas especiais pessoas sentiriam o mesmo por nós. Abraço amigo
Maria - Este meu amigo é sentido duma forma e num contexto diferente dos demais. Enquanto o Martin vivia no pleno conforto do lar com os seus pais (em Paris) eu vivia num minúsculo quarto com outro amigo português de que já aqui falei. Claro que os imponderáveis que essa situação criava,limitavam a minha forma de viver. Falta de dinheiro, de comida, de amigos, de família, de tudo. A única coisa que havia a mais era as mulheres. Afinal era um puto de 18 anos que ali estava à descoberta do mundo e sofrendo o que essa aventura implicava. Mas fi-lo com gosto e nunca desanimei. Partilhámos tantas coisas e as "miúdas" pensavam que éramos irmãos, porque éramos parecidos. Eu, mais loiro, ele, mais moreno, mas ambos de olhos azuis.
Por todos os países onde depois fui passando senti saudades dele e acabava sempre por regressar a Paris para o visitar. Depois era ficar a vê-lo no cais da Gare do Norte, de braço no ar despedindo-se de mim e lamentando não me acompanhar. Ele tinha uma vida arrumada em termos profissionais. Era empregado da Segurança Social e eu era apenas um errante viajante saltitando de país em país até onde o coração mandasse.
Cala-te Alain!
Bisous Juliette!
Querido Alain:
hoje, também por aqui, as lágrimas abriram caminho.
faz-me um jeitinho... nunca apagues os olhos.
XI-coração
Caro Kim;
Um amigo nunca morre,... apenas viaja.
Bela homenagem prestas-te a quem te deu a sua amizade.
Um abraço, amigo Kim.
Osvaldo
Saio em silêncio, porque a dor de Pais jamais é colmatada. Beijos.
Eu guardo no íntimo, o que presenciei em tão grande sentimento por alguém,após vinte cinco anos passados do seu falecimento.
Kim; vinha em tom de brincadeira, mas, adiei! É bom termos amizades lindas no coração, no cofre ficam elas sempre e ninguém nos tirará a sua essência! Que bom, que amizade e que pena ser assim; mas, ambos sabemos que a vida que vivemos é esta, hoje eu, amanhã tu e o bom de tudo é que a lembrança nunca morre!
Meu querido Kim que também penaste para erguer a vida, tão novo ainda e já com tamanha responsabilidade às costas...18 anos, tão rapazinho, tão homenzinho! Ainda bem que estás aqui, na terra que nos viu nascer e que consegues fazer frente à vida! Que o teu amigo esteja bem, lá onde estiver, é o meu desejo. Um beijinho a ti e a ele..laura.
Seve disse...
Obrigado Kim!
Seve
Tal como a nossa amiga Paula, também saio em silêncio porque a emoção é demais.
Beijinhos da
Verdinha
Amigo Kim,
Tu te souviens comment on fête le premier mai en France ?
En Belgique, c'est la même chose !
Viens chercher ton "porte-bonheur" DEMAIN chez moi !
Bon rendez-vous avec ces "dames".
Tu me raconteras à mon retour ?
Bisous
Verdinha
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