Há muito que não ia à Baixa. Dela senti saudades e meti-me ao caminho.
Tinha ainda nas narinas todos os cheiros do Chiado, mas no Natal os odores seriam mais fortes, pensei.
A linha azul levou-me ao Terreiro do Paço. Depois foi só deambular por essa grandiosa obra do Marquês do Mal e espantar-me à esquerda e à direita. Parecia um cow-boy em Nova York. Nada mais era como dantes. Ou eu estava desajustado no tempo ou a Baixa não era mais a mesma. Ali laborei três anitos, nos finais dos anos sessenta, na Rua dos Duques de Bragança, entrada traseira do prédio da PIDE..
Afinal era eu que ali chegara com trinta anos de atraso. Fazia tempo que não olhava para todos os cantos como hoje o fizera. Parei em cada loja que já não existia e ceguei ao que agora lá estava.
“Promenei-me” por entre a “foule” ávida de desembolso, bebi a ginjinha no Largo de S. Domingos e desejei meia dúzia de castanhas assadas no fogareiro do homem do saco.
No Rossio não resisti a trocar impressões com um aventureiro da vida, meio louco, meio artista, que acariciava o seu escanzelado e fiel canídeo, a quem carinhosamente chamava Podengo. Darek, polaco de nascimento, trinta anos maltratados, saltita de país em país, petrificando o seu corpo em cima dum pedestal, vestido um qualquer albernó que o ajuda a amealhar os euros que lhe alimentam os dias.
Depois em cada esquina, um pequeno tocador, um pequeno acordeão, um pequeno canito, qual marioneta inerte, de copo de esmolas pendendo da boca, à espera de Godot.
Permaneci no passado quando um alfarrabista de rua (Ivens) apregoava ao hesitante cliente: “Olhe que esta colecção pertenceu ao Coronel Baptista Rosa. Fiquei com todo o espólio dele e tem muito valor”.
Fiz de conta que não ouvi e pensei - meu velho chefe militar de pelejas cinéfilas, onde quer que estejas não esquecerei o apoio recebido nos Serviços Cartográficos do Exército.
No regresso, a linha azul pareceu-me já negra. A noite acabara de chegar e os cheiros do Chiado haviam-se dissipado.
Tinha ainda nas narinas todos os cheiros do Chiado, mas no Natal os odores seriam mais fortes, pensei.
A linha azul levou-me ao Terreiro do Paço. Depois foi só deambular por essa grandiosa obra do Marquês do Mal e espantar-me à esquerda e à direita. Parecia um cow-boy em Nova York. Nada mais era como dantes. Ou eu estava desajustado no tempo ou a Baixa não era mais a mesma. Ali laborei três anitos, nos finais dos anos sessenta, na Rua dos Duques de Bragança, entrada traseira do prédio da PIDE..
Afinal era eu que ali chegara com trinta anos de atraso. Fazia tempo que não olhava para todos os cantos como hoje o fizera. Parei em cada loja que já não existia e ceguei ao que agora lá estava.
“Promenei-me” por entre a “foule” ávida de desembolso, bebi a ginjinha no Largo de S. Domingos e desejei meia dúzia de castanhas assadas no fogareiro do homem do saco.
No Rossio não resisti a trocar impressões com um aventureiro da vida, meio louco, meio artista, que acariciava o seu escanzelado e fiel canídeo, a quem carinhosamente chamava Podengo. Darek, polaco de nascimento, trinta anos maltratados, saltita de país em país, petrificando o seu corpo em cima dum pedestal, vestido um qualquer albernó que o ajuda a amealhar os euros que lhe alimentam os dias.
Depois em cada esquina, um pequeno tocador, um pequeno acordeão, um pequeno canito, qual marioneta inerte, de copo de esmolas pendendo da boca, à espera de Godot.
Permaneci no passado quando um alfarrabista de rua (Ivens) apregoava ao hesitante cliente: “Olhe que esta colecção pertenceu ao Coronel Baptista Rosa. Fiquei com todo o espólio dele e tem muito valor”.
Fiz de conta que não ouvi e pensei - meu velho chefe militar de pelejas cinéfilas, onde quer que estejas não esquecerei o apoio recebido nos Serviços Cartográficos do Exército.
No regresso, a linha azul pareceu-me já negra. A noite acabara de chegar e os cheiros do Chiado haviam-se dissipado.
Até breve Chiado! Voltei a apaixonar-me por teus encantos!
14 comentários:
Gosto muito de passear por lugares assim, só que ando sozinha, o manel fica em casa nem liga e eu já deixei de querer a companhia dele para ir seja onde for, assim; vou ter com as amigas e andamos lá por cima na cidade que não é tão quente como a vossa Lisboa...Adoro ver os artistas, as pessoas, o bem estar que se possa respirar, entrar em livrarias e se puder comprar livros; tanto melhor.
Pois, moço da minha idade; Bom Natal e um Ano Novo feliz, cheio de magia e coisas lindas a acontecer..laura.. ehhhhhhh
Kim:
Nas muito raras vezes que vou à "Baixa" nesta altura, vou sempre à espera de encontrar as "meninas das violetas", com ou sem tranças pretas, mas com cestos a abarrotar das pequenas flores roxas-negras que enchiam o "Chiado" de um aroma delicioso. Comprava três raminhos por 2$50, um para a minha mãe, outro para a minha avó, outro para mim.
As duas partiram, as violeteiras e as violetas desapareceram e o "Chiado" já só cheira bem, junto às lojas de perfumes. Só resto eu e a lembrança dos "bons velhos tempos".
E eu já não sou a menina cheia de sonhos. Sou uma mulher já madura, às vezes um pouco amarga e desiludida.
Ai que saudades das violetas!
Beijo
Maria
Olá amigo Kim;
Bela reportagem e homenagem à Baixa Lisboeta, com sua magia, seus aromas e cheiros inconfundiveis...
Embora não tenha grandes conhecimentos históricos e geográficos de Lisboa, os seus Bairros tradicionais sempre me encantaram e cativaram.
Um abaraço e Feliz Natal.
Ana e Osvaldo
Vou agora mesmo ao Chiado comprar livros. Até já Mestre Kim.
...
vim escrever-te um OLÁ :)
[FELIZ NATAL]
...
Beijo meu
Pois eu apaixonei-me por Paris ......mas isso tu já sabias....
Nada como a gente se apaixonar pelos sítios onde um dia foi feliz.....muito feliz.
Gros bisous
Com a minha bike, pedalando atrás do meu filho na sua ainda fresca idade, depois de assistir um pouco a um espectáculo para crianças no Rossio aí vamos nós a subir até ao Chiado.
Um casal que passava notou o meu esforço e disse-me; Está difícil?
Eu respondi; Para si também, vem a descer e não trás sacos de prendas imagine eu, que ainda vou a subir.
Foi uma risota digna de um domingo cheio de sol e boa disposição.
FELIZ NATAL PARA TODOS COM MUITA ALEGRIA.
Feliz Natal, Amigo,a luz de Lisboa...
Bisous .
A multidão assusta-me... Será velhice ?
Beijinhos verdinhos
Que me perdoe o atrevimento, mas pelo que escreve revela frescura e o isolamento é pior do que a multidão.
FELIZ NATAL COM MUITA SAÚDE E ALEGRIA..Desejo de um leão de signo e green de clube.
Também tenho um leão em casa de coração de leão, mas não de clube, ehhh é benfiquista e por mais que lhe diga que vão perder hoje, nem me acredita... Beijinhos..
Pelos vistos, Deus existe, ninguém se pode rir nem chorar em relação aos clubes.
Estão todos a curtir a quadra natalícia.
"Bons costumes"
Olá amigo nunca mais escrevi ,mas venho sempre espreitar,mas hoje tenho que dizer que o coronel foi marido de uma grande amiga que perdi no verão passado a Laura Batista Rosa,por isso essa do espólio, fiquei tão triste quanto tu,mas a morte é tão certa e por vezes ninguém acredita que isso acontece.Todos os dias me vem á cabeça a cara e a voz desta pessoa incrivel que lutou até ao fim para não partir, tenho muitas saudades.Um Beijo para ti, e muita saúde,alegria,paz e amor para a malta do blog com abracinhos e beijinhos misturados (tipo batido)
MARIA DAS CALDAS
Sempre simpatizei com o Batista Rosa que via (na TV a preto e branco) como um apaixonado pelas artes, nomeadamente pela 7ª., do que um coronel.
Seve
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