22 de outubro de 2007

Amsterdam - 6

A noite foi mal dormida.
O hotel não tem serviço de despertar, pois em cada quarto dormem oito jovens, e acordar um significaria acordar os restantes.
A preocupação de me levantar às seis, fizera com que eu, intermitentemente, acordasse.
- Bom dia Mr Urgens! Parece que já estou um pouco atrasado!
- Bom dia Alain! Ainda tens muito tempo! No máximo vais demorar uma hora a chegar lá!
- Não é bem assim! A tipografia fica fora da cidade e eu nem a cidade conheço!
- Está bem, mas conforme te expliquei é só seguires o percurso do vinte e um – direcção Zeeburgerdijk. E como o refeitório ainda está fechado, preparei-te este saco. Toma!
Lá dentro, dois pães de leite, duas miniaturas de manteiga e outras tantas de geleia, eram o tónico que precisava para a caminhada que se avizinhava. Agradeci e despedi-me.
À distância parecia um gesto normal, mas aquela preocupação agradava-me sobremaneira.
Três quarteirões mais à frente, lá estava a paragem do vinte e um. Agora era só seguir-lhe o rasto.
Abri o saco e despejei uma miniatura de geleia e outra de manteiga dentro dum pão rasgado com os dedos.
Na Holanda o almoço é uma refeição frugal. Quase inexistente. Havia que guardar o segundo pão para esse momento. Assim eu fora capaz. Quando havia, havia, quando não havia, não havia. Má visão da situação, como sempre fiz. A adrenalina pedia-o.
Sem perder o Norte do meu destino, o gesto do saco do pequeno-almoço afloraram-me à ideia coisas que me pareciam sem nexo, ou talvez não.
Quando um homem já viveu muito em pouco tempo, quando está só e o pensamento tem espaço para se espraiar, mil incertezas nos invadem.
De repente já não havia Mr Urgens. Era aquele gajo. Tão simpático, tão porreiro, tão amigo. E pensava! 

Se calhar é bicha!
Vá lá não sejas assim! O homem está só a ajudar-te e tu levas logo isso para outro lado! – respondi a mim mesmo.
Será que é? Será que não? Lembrei-me então que numa das nossas conversas, me alertou que as nórdicas tinham muita queda para os latinos e que assim sendo, eu iria ter dias muito agradáveis em terras da Rainha Juliana.
Esta pequena lembrança deixou-me mais animado.
O surdo monólogo fazia-me atravessar rua após rua sem quase me dar conta do que já andara.

A linha do vinte e um levara-me efectivamente à morada pretendida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pensamento positivo e um sorriso nos lábios é sempre meio caminho andado..

Isabel