30 de outubro de 2007

Amsterdam - 10

À entrada, um porteiro encaminhava os hesitantes para o escritório situado em edifício isolado, logo à direita.
Entreguei a carta de admissão e foram-me distribuídos, uma chave dum cacifo, um fato macaco, e sete arcaicas fichas­­/moedas que dariam direito a outras tantas bebidas gratuitas. Café, chá, leite, chocolate, sumo, coca-cola e água, eram as escolhas.
Três outros presumíveis estudantes, juntaram-se a mim. Aos agora quatro neo-operários, mais um acompanhante, mostraram o seu espaço. Depois, entregaram-nos a um hipotético encarregado, para gerir oito braços mais.
Um asiático, dois americanos e eu, formávamos o quarteto a laborar no pavilhão B.
O Chinoca e o Steven, dum lado, o Jean Claude Joblansky (sempre achei piada ao nome) e eu, do outro, formávamos as duplas a mecanizar.
O nosso trabalho consistia em descarregar todos os dias, ao início da jorna, um super camião, cheio de embalagens de margarina embalada em vácuo. Cada embalagem tinha vinte e cinco quilos. À nossa frente corria uma passadeira rolante para a qual empurrávamos a margarina, depois de esfaqueada a embalagem que a protegia, sendo esta levada para uma caldeira onde era derretida e canalizada para a mistura necessária à confecção de cacau.
Estava numa casinha de chocolate, aliás num “fabricão” de cacau.
Tão simples quanto isto. Parecia simples, mas era duro.
O Chinoca cursava Direito. Steven, era Sociólogo. Jean Claude, um sósia de Cristo e portador do sangue mais nómada que já conheci.
Filho de pai polaco e mãe espanhola. Nascido na Argélia. Naturalizado americano. Vadio na Holanda. Sonhador em Katmandu.
A parte da manhã era destinada a descarregar o camião. A da tarde, a abrir as caixas e fazer chegar a margarina às caldeiras.
Não acompanhei nunca o processo seguinte. O pavilhão B era o nosso limite.
À hora de almoço, uma mini-roulotte particular vendia postas de peixe cru, arenque fumado e “uma coisa qualquer” frita. No principio comi “a coisa qualquer”. Depois de farto, passei ao peixe cru, já que o fumado sabia a podre.
Na vida, a gente habitua-se a tudo e descobrimos que a resistência humana vai sempre mais além.
Em tudo não foram fáceis os primeiros tempos.

De dia, dava cabo do corpo. À noite, do corpo me davam cabo.

5 comentários:

Carla D'elvas disse...

Ías docinho... depois davam-te cabo do corpo!
;)

Anónimo disse...

Maravilhoso,maravilhoso,maravilhoso,os homens são seres dotados de grande força,tanto para trabalhar como para........... e mais não digo,só digo e direi sempre que eles pensam mais com os tomates do que com a cabeça,e temos aqui a prova.Beijinhos para o malandreco do Kim da Maria

Anónimo disse...

Ou então ia ajudar na cozinha e nas limpezas da pensão.
Depois com tanto trabalho dormia como um anjo...

Só pode ter sido por isso...Ihihihih

Isabel

Anónimo disse...

Puxa! Bem rapidinhas, as minhas amigas, a dar-me cabo do canastro.
Sei que, às vezes, pensamos com outras partes do corpo e somos anjinhos, mas ... outras, somos anjos adoráveis.
Digam lá que não!
Tens razão Carla - ia docinho do cacau!
Oh Maria, esqueceste-te que adoro tomates.
Pepinos é que não!
A Isa é que tem razão - depois dum dia de trabalho, ainda tinha as limpezas e a cozinha do hotel.
Este Kim era um mártir!

Anónimo disse...

Só tenho pena de só ter encontrado demónios em vez de anjos,mas ainda estou a tempo de ver um anjo adorável,ter é que é mais dificil.beijo da Maria