Na vida, só damos valor às coisas, depois de mortas, perdidas, desaparecidas, alienadas.
Nunca tive bem a noção do que seria o amor deste meu avô, já que viveu os seus últimos anos, a olhar para as coisas que quase já não via.
Como a minha avó materna foi o meu grande amor, não tive a noção do que seria amar este rude avô Rato.
Kim Kim, não perdia uma oportunidade para brincar e judiar o velhote (como tenho remorsos disso!!!)
Então um dia … a minha mãe apanhou-o a beber pelo garrafão.
De imediato ralhou com ele e disse-lhe:
- O pai não tem vergonha? A beber pelo garrafão? E ainda por cima isso é petróleo!
O avô, tirou o garrafão da boca e na maior das calmas, activou as papilas gustativas. Saboreou o gosto que tinha na boca e em ar de desprezo, colocou o garrafão no chão e falou baixinho:
- Parece que sim. Parece que sabe a petróleo!
Claro que tudo ficou na mesma e nem precisou de nenhuma lavagem ao estômago. Ali tudo desaparecia, sem nada danificar.
Sabendo isto (talvez por volta de 1975), decidi pregar-lhe uma partida e ... a Rádio Renascença abriu o noticiário, informando numa linguagem que ele percebesse mais ou menos isto:
- Atenção, atenção, na povoação de Atalaia do Campo (onde ele passou toda a vida) vive o Sr. Domingos Eusébio. Este senhor, que vai comemorar oitenta anos de vida, convida todos os seus amigos a estarem presentes no seu aniversário, para o qual já adquiriu uma pipa de 500 litros de vinho e fez um pedido especial para que o seu amigo Domingos Lopes (Rato) não falte a este almoço.
O meu avô não gostava muito de vinho. Raramente bebia mais de cinco litros por dia. Nesta fase até já tinha acalmado um pouco.
Como ele não percebesse a noticia eu voltava a carregar no botão respectivo do gravador e repetia a noticia. Até que percebeu o que acabara de ouvir.
- O quê? O meu amigo Domingos Eusébio, tem lá uma pipa para abrir? Quero ir já para a terra!Não mais parou. Entrou numa excitação enorme e não se calava.
Com a maior calma do mundo, lá lhe expliquei que, beber lá ou beber cá, era a mesma coisa.
- Nem pensar! Quero ir já embora!Como não o conseguissemos segurar, mostrei-lhe o rádio, que era afinal um gravador, carreguei no REC e comecei a gravar ao mesmo tempo que dizia:
- Oh avô, isto é uma brincadeira. Fui eu que fiz a notícia para mangar consigo. E para lhe provar que estou a falar a sério, estou a gravar esta conversa para você ouvir.
Meio desconfiado e enquanto eu continuava a gravar, vociferava:
- Puta que pariu o rapaz, que é um aldrabão do catano! És um mentiroso!- Pronto avô, não diga mais nada! Oiça esta nossa conversa que acabei de gravar!
Com os olhos esbugalhados, tentando ouvir o que mal via, começa a ouvir a gravação que entretanto quase lhe encostei ao ouvido. Quando chegou a altura de ouvir “és um mentiroso” encostou a boca ao gravador e em tom elevado berrou:
- Pois és”! Pois és! És um grande mentiroso!E ficou à espera que o gravador lhe respondesse. Como este ficasse mudo, pois eu escangalhava-me a rir, abandonou a sala praguejando a gaguejar:
- O caaa... tano doooo raaa...paz tttttem ca...ca... cada iiii...deia!!!
Nunca tive bem a noção do que seria o amor deste meu avô, já que viveu os seus últimos anos, a olhar para as coisas que quase já não via.
Como a minha avó materna foi o meu grande amor, não tive a noção do que seria amar este rude avô Rato.
Kim Kim, não perdia uma oportunidade para brincar e judiar o velhote (como tenho remorsos disso!!!)
Então um dia … a minha mãe apanhou-o a beber pelo garrafão.
De imediato ralhou com ele e disse-lhe:
- O pai não tem vergonha? A beber pelo garrafão? E ainda por cima isso é petróleo!
O avô, tirou o garrafão da boca e na maior das calmas, activou as papilas gustativas. Saboreou o gosto que tinha na boca e em ar de desprezo, colocou o garrafão no chão e falou baixinho:
- Parece que sim. Parece que sabe a petróleo!
Claro que tudo ficou na mesma e nem precisou de nenhuma lavagem ao estômago. Ali tudo desaparecia, sem nada danificar.
Sabendo isto (talvez por volta de 1975), decidi pregar-lhe uma partida e ... a Rádio Renascença abriu o noticiário, informando numa linguagem que ele percebesse mais ou menos isto:
- Atenção, atenção, na povoação de Atalaia do Campo (onde ele passou toda a vida) vive o Sr. Domingos Eusébio. Este senhor, que vai comemorar oitenta anos de vida, convida todos os seus amigos a estarem presentes no seu aniversário, para o qual já adquiriu uma pipa de 500 litros de vinho e fez um pedido especial para que o seu amigo Domingos Lopes (Rato) não falte a este almoço.
O meu avô não gostava muito de vinho. Raramente bebia mais de cinco litros por dia. Nesta fase até já tinha acalmado um pouco.
Como ele não percebesse a noticia eu voltava a carregar no botão respectivo do gravador e repetia a noticia. Até que percebeu o que acabara de ouvir.
- O quê? O meu amigo Domingos Eusébio, tem lá uma pipa para abrir? Quero ir já para a terra!Não mais parou. Entrou numa excitação enorme e não se calava.
Com a maior calma do mundo, lá lhe expliquei que, beber lá ou beber cá, era a mesma coisa.
- Nem pensar! Quero ir já embora!Como não o conseguissemos segurar, mostrei-lhe o rádio, que era afinal um gravador, carreguei no REC e comecei a gravar ao mesmo tempo que dizia:
- Oh avô, isto é uma brincadeira. Fui eu que fiz a notícia para mangar consigo. E para lhe provar que estou a falar a sério, estou a gravar esta conversa para você ouvir.
Meio desconfiado e enquanto eu continuava a gravar, vociferava:
- Puta que pariu o rapaz, que é um aldrabão do catano! És um mentiroso!- Pronto avô, não diga mais nada! Oiça esta nossa conversa que acabei de gravar!
Com os olhos esbugalhados, tentando ouvir o que mal via, começa a ouvir a gravação que entretanto quase lhe encostei ao ouvido. Quando chegou a altura de ouvir “és um mentiroso” encostou a boca ao gravador e em tom elevado berrou:
- Pois és”! Pois és! És um grande mentiroso!E ficou à espera que o gravador lhe respondesse. Como este ficasse mudo, pois eu escangalhava-me a rir, abandonou a sala praguejando a gaguejar:
- O caaa... tano doooo raaa...paz tttttem ca...ca... cada iiii...deia!!!
- O catano do rapaz, tem cada ideia!!!
6 comentários:
E também existe uma história de um aviso na rádio na SFRAA, não é verdade?
Ah! KIM, que maldade!
E não levaste nenhum pito da tua mãe?
Espero que teus netos, venham a ter teu gens de grande aprontador, e de preferencia com você.
kakakakakaka
SPUK
Sim Rui, também houve uma "estória" parecida na SFRAA.
Contarei um dia destes.
Spuk - Vou ter que estar atento com as maldades dos meus netos, quando os tiver, né?
Diz um ditado antigo "Cá se faz cá se paga"
Mas as mentalidades são outras e por certo rirá com eles.
Bom fim semana para todos.
I.R.
Lembro-me bem desse teu avô Rato, que conheci ainda na casa da R. Pedro Franco.
As espessas lentes dos óculos parece que lhe vincavam ainda mais a PERSONALIDADE.
Conheci o senhor avô do kim,embora não estivesse ao corrente desses pormenores.Quem não foi traquinas que atire a primeira pedra
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