Não é fácil falar deste gigante do palco, porque também o era na vida real. Em todos os sentidos.
Dele ouvi falar pela primeira vez em 1967. Enlevado pelas canções de Adamo, qualquer outro cantor me parecia horrível. Brel não fugia à regra. Era feio, não tinha cabelos compridos nem camisas às flores, cantava como se desse murros na parede e não falava do amor que fazia um jovem sonhar.
Enganei-me redondamente, mas só o percebi meia dúzia de anos depois. Falava da revolta, da burguesia, da falsidade, dos desprotegidos e tratava a morte por tu.
Brel tinha uma particularidade que o diferenciava dos outros. Quem não tiver conhecimentos da língua francesa, nunca perceberá onde estava a diferença. Apenas saberá que gosta dele ou não, sabe-se lá porquê.
Ele foi indignação, violência, ternura, anti-vedeta, revoltado, apaixonado, amigo, eremita, franciscano, cantor, actor, marinheiro, aviador, tudo. Levou a vida ao extremo e não tinha meio-termo. Era tudo ou nada. Tabaco, álcool, mulheres, noitadas, todos os excessos e prazeres da vida eram o seu limite. Todo ele era tudo, muito, muito mais, mais ainda.
Brel abandonou a ribalta para se refugiar nas carícias dos ventos e nos beijos das vagas, à proa do seu veleiro, numa volta ao mundo sem final feliz. Brel esperava por mim, qual “meteque” vagabundo, quando adoeceu, numa curta paragem nos Açores e foi lá que percebeu que o fim poderia estar próximo.
Quase ignorando a luta que então iniciou contra um cancro no pulmão, refugia-se na Ilha de Hiva Oa, no Arquipélago das Ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa. Vende então o veleiro e adquire um pequeno avião, pilotado por ele próprio, ajudando a combater o isolamento das populações mais remotas, colocando o bimotor, gratuitamente, ao serviço das populações, no transporte de pessoas e correio.
Profundamente debilitado volta a Paris para morrer a 9 de Outubro de 1978, não sem antes de deixar expresso o desejo de jazer na longínqua Polinésia, onde repousa no meio dos seus nativos, entre tufos de ternura e saudade, bem longe das luzes do efémero.
Por tudo o que foi, Brel é para mim a paixão que se sobreleva a todas as outras.
Morre cedo quem os Deuses amam, alguém disse um dia.
Meu velho Jacques, estarás sempre comigo.
Ne me quitte pas!
"Tenho menos medo da morte do que de me tornar um velho cretino".
Jacques Brel
Meu velho Jacques, estarás sempre comigo.
Ne me quitte pas!
"Tenho menos medo da morte do que de me tornar um velho cretino".
Jacques Brel
16 comentários:
o eterno nunca mora.
Mas as saudades fazem-nos velho.
abraço e à espera de um almoço na Cidade do Sado
Oh, só aqui fiquei a saber que a vida dele foi assim.
Pelo menos fez o bem a meio mundo e de certeza que estará bem nos dias de hoje lá onde se encontra. Acredito piamente na vida depois desta vida.
Eu mal o conhecia e só passei a gostar dele quando um certo matulão começou a cantar nas ruas de Tabuaço à noite, levando as meninas a juntar a voz à tua, e foi aí que comecei a dançar com o Moa pelas ruas da vila! soube-me que nem ginjas...
Já tinhas cantado para mim na minha casa, lembras? e em Francês, quando deste conta que eu não sabia Francês, emendaste logo dizendo; desculpa, estou a cantar Francês, e corrigiste e passaste a cantar traduzido..é uma bela recordação!
Beijinho da dolce e ontem não foste ao sarau lá em casa! mas já te imaginei lá a cantar essa mesma canção!
As minha preferências musicais são de autores portugueses e anglo-saxónicos. Dos poucos autores/intérpretes franceses que conheço, Jaques Brel é o que gosto mais de ouvir. "Une valse a mille temps" é uma música eterna.
Ha uantos anos, amigo Kim Como estou a ficar velho! Parece que foi ontem. Enamorei-me de muitas,(terei enamorado alguma?) a cantar este grande Brel.
Ele é dos que da lei da morte se foram libertando. Comungo com ele o dito: não temo a morte; temo é não saber viver. Para cretinos já bastam os que nos apoquentam.
Abreijos
André Moa
Só passei a gostar do Brel quando envelheci porque, antes, para mim, uma teenager. era um cantor "sério" demais . Eu gostava mais dos Yé-Yé's com os quais podia dançar...
Um beijinho da compatriota do Jacques Brel na terra-mãe dele.
Verdinha
Que saudades do Brel, da Juliette Greco... foi um belo tempo, a nossa juventude!
Beijinho grande Kim para ti e para a tua mulher!
Kim
Jacques Brel "Ne nous quittera jamais".
Feio? Nunca achei. Aquele ar duro, escondia um menino cheio de amor, incompreendido e mal amado.
Será sempre o meu poeta, o meu cantor. Je l'aime encore, malgré tous ces annés.
Bisous
Marie
O gostar também se aprende.
Estou a aprender
Beijinho
Isabel
Não era dos meus ídolos de eleição, mas gostava da melancolia das suas canções.
Tenho a certeza, de que se eu soubesse francês, gostaria mais das suas canções.
Grande frase final,também coloco a morte em primeiro lugar.
jrom
Brel não nos deixará nunca, Kim.....
Ele estará eternamente no nosso coração, e se bem mais tarde que tu o conheci, posso dizer-te que tenho a mesma paixão pelas suas palavras, musicas e pelo mesmo homem que foi.
Até sempre Brel...
Beijinhos Kim ( beijinho grande á Luisa e ao filhote)
Saudades de Brel...
saudades dos amigos...nunca serão esquecidos.
E eu...não esqueço.
Beijinhos e obrigada!
Kim;
Depois de tudo o que aqui escreveste, o que poderia eu acrescentar?...
Mas também digo que Brel só entrou no meu mundo musical depois de que faleceu porque antes, fora da francofonia, pouca importância lhe davam e o desconhecimento era quase total.
Como para os grandes Impressionistas, também a morte o tornou famoso. Hoje, confesso, que sou um grande admirador do trabalho de Jacques Brel. Talvez um dia venha a ter a oportunidade de me desculpar e de lhe agradecer a herança poética e musical que nos deixou.
Grande abraço, Kim
Osvaldo
Kim
Encontrei-o no blog do Osvaldo e vim conhecer seu espaço, que muito me agradou!
Adorei o post!
Virei sempre.
Abraço
Brel tem de ser celebrado todos os dias. Eu faço a minha parte com um blog (O CANTO DO BREL) onde além de publicar notícias sobre o que vai acontecendo às volta de Brel e da sua passagem pelo Faial - Açores, publico também a obra de Brel em português , traduzida por mim ao longo dos anos.
Bem hajam brelianos
Sergio
Nada melhor que homenagear a arte e celebrar a vida dedicando os ouvidos e os sentidos as suas canções eternas, sobretudo amanhã no seu aniversário. Viva Jacques!
Nada melhor que homenagear a arte e celebrar a vida dedicando os ouvidos e os sentidos as suas canções eternas, sobretudo amanhã no seu aniversário. Viva Jacques!
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