30 de abril de 2010

Raul Solnado? Não conheço!

Foram muitas as “estórias” que o Raul me segredou, mas hoje lembrei-me de contar uma, até porque foi a primeira que ele me contou, logo no dia que nos conhecemos.
O meu mundo gira muito em volta das Portas de Benfica e foi aí que ele me deliciou com esta “estória” que era mais ou menos assim:

Há muitos anos, talvez por volta de 1955, ele tinha um Mini e era um artista ainda muito pouco conhecido, apesar de julgar que toda a gente o conhecia (palavras dele). Então era habitual a malta do teatro, depois de terminado o espectáculo, lá por volta da uma da manhã, ir beber um copo ou petiscar qualquer coisa onde os ventos soprassem de feição.
Ora foi numa dessas noites que o Raul, ao volante do seu Mini foi para uma dessas patuscadas acompanhado pelos seus amigos, Humberto Madeira, José Viana e Amália Rodrigues. No banco de trás seguiam estes dois últimos.
Vindos do Parque Mayer, dirigiam-se para os lados de Belas e ao passar pelas Portas de Benfica, foram mandados parar por uma brigada da Polícia de Viação e Trânsito, que ali tinha um posto permanente.
Naquele tempo os agentes da Brigada de Trânsito eram uns verdadeiros algozes a vomitar prepotências. Multavam quando tinham razão e quando não tinham. Felizmente que hoje melhorou um pouco, mas multam na mesma.
Como não conhecesse bem o local, hesitou entre virar à esquerda, à direita ou ir em frente e isso terá despertado a curiosidade do agente que imediatamente o mandou parar. Do alto da sua cátedra o agente insinuou que o Raul teria feito uma manobra perigosa e como tal tinha de o multar. Como principiante que era, identificou-se tentou explicar ao agente que eram todos artistas e tinham acabado de fazer um espectáculo e iam petiscar a Belas, mas não conheciam muito bem o caminho, daí a hesitação e a possivel brusca mudança de direcção.

- Raul Solnado? Nunca ouvi falar!
O agente, impávido e distante, ignorava qualquer teia que o tentasse enlear.
Raul, quase a medo gaguejou que ele próprio era artista e aquela senhora do banco de trás era já a grande Amália.
O agente nem desviou o olhar. Cada vez mais sisudo e prepotente rabiscava a indesejada coima.
Num só golpe arranca a folha que acabara de escrever, entrega-lha e vira-lhe as costas deixando no entanto escapar um desabafo:
- Amália??? Está-me a dar fado mas já não vou em cantigas!!!
E naquela noite o jantar ficou mais caro!

Desculpa lá Raul, mas esta é daquelas que se podem contar!

13 comentários:

Laura disse...

Que ganda estória, que policia maluco e palerma, atão não vu o nosso Solnado mais a Amália? mau, o homi devia ter falta de óculos, só podia... Mas que transtorno, coitado do Solnado uma multa por coisa de nada!
Gostei de saber já que foi contado por ele.
Beijinhos da dolce,feliz pois a Neide já está Doutorada...por extenso, que bom!...

Maria Soledade disse...

Amigo Kim:Eu sei que a polícia tanto outrora como hoje, gosta, ou melhor, adora rabiscar papelinhos.Umas vezes com razão,outras sem razão nenhuma, o que é preciso é que as multas chovam.E eu que o diga...que já perdi a conta às vezes que fui multada perto do hospital num local onde o estacionamento não incomoda RIGOROSAMENTE NADA!!!!

Mas, vamos ao nosso Querido Solnado.Nessa situação vivida por ele e pelos amigos, acho que se tratou da chamada nítida "caça à multa".Não me parece que tivesse sido uma infracção grave que
merecesse castigo(multa)!Mas, sim porque há sempre um mas,se a tal manobra constituísse perigo,concordo que fosse multado como qualquer outro cidadão.Apesar da enorme simpatia que nutro por o Raúl,aliás, por todo o grupo,não implica diferença de tratamento.Seria apenas uma questão de justiça!Se o dito cujo não os reconheceu das duas uma:Ou era de todo avesso às artes, ou como já era de noite via tudo a preto e branco!...

Beijinhos

Laura disse...

Ehhh claro, Soledade, a preto e branco foi o que ele viu pois se reparasse bem, a Amália por si só, valia uma olhadela...naquele tempo...

E por falar nisso um dia fui á aldeia buscar a minha madrinha e levar de novo, era uma h e tal para cada lado. Passei na Barragem da Venda Nova, ah, estava ali o maldito jeep dos verdes... alto lá, sair do carro mostrar documentos, poças, tinha mudado de carrinha, o manel precisava de carregar material e eu fiquei com a ford pequena de dois lugares.os documentos? claro, estavam com o manel e ele levou os da carrinha, enfim..foi justo... nome do Policia; blá blá Lavrador, a minha madrinha que já muito doente e mal se segurando em pé diz; Lavrador? foi meu aluno! na Venda Nova..e eu? e só agora dizes, então vais pagar a multa, cinco mil escudos! pois é, foi-se antes e nunca a pagou ehhhhh, fica a dever para a próxima encarnação!
Beijinho a todos, laura

Maria disse...

Kim
Se calhar se o Raúl tem dito que era o Santo Antóonio e Amália, a Senhora de Fátima, o polícia acreditava. Assim... Tramou-se.
Afinal, segundo alguns, a fé é que nos salva.
Beijinhos
Maria

Je Vois La Vie en Vert disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kim disse...

O imberbe do Raul estava ainda a aprender a lidar com a glória. Já os outros, mais consagrados, não fizeram nada para que não fossem multados. Nem sairam do carro. Tivesse isso acontecido e bastava a figura da Amália para resolver o problema.
Às vezes nem é tanto o puxar do galões. O que irrita é a injustiça.
De resto, toda a vida o Raul foi bastante humilde e o seu percurso confirma-o.

Je Vois La Vie en Vert disse...

Amigo Kim,

Queria juntar uma piada aqui e não coloquei o fim da história... Assim não tem piada nenhuma ! Tive que apagar o meu comentário.

Claro que o Raul Solnado foi sempre humilde !
E ninguém gosta de ter uma multa ainda por cima se não é merecida !
Só que, às vezes, tentar discutir com os agentes ainda os irrita mais.
Volto então a colar a piada :
O Papa, terminada a sua visita a Portugal, foi de limusina para o aeroporto.
Como nunca tinha conduzido um carro daqueles, perguntou ao motorista se poderia conduzir por uns instantes.
O motorista atrapalhado, lá disse
- Bem... acho que sim...! - e foi para o banco traseiro da limusina enquanto o Papa ia para o volante.
Na auto-estrada A1, acelerou até aos 180 km/hora... 220 km/hora... 250 km/hora... De imediato as luzes azuis da patrulha da BT da GNR surgiram no espelho.
O Papa lá encostou e o agente foi ao seu encontro. Quando se debruçou sobre janela e viu de quem se tratava, disse:
- Por favor... Aguarde um momento.... eu preciso ligar para a central.
O agente da BT pegou no rádio e chamou o Chefe, dizendo:
- Eu tenho uma pessoa muito importante que conduzia a mais de 250 km/hora na A1 e preciso de saber o que fazer.
- É o Cavaco? - Perguntou o chefe.
- Não, é ainda mais importante.
- Não é o Sócrates, é???
O agente respondeu:
- Não! É ainda mais importante do que esse...
- Bem, mas então quem é esse VIP??!! - gritou o Chefe já sem paciência.
O agente responde:
- Sabe, Chefe! Eu não tenho bem a certeza... mas acho que deve ser Jesus Cristo, porque o motorista é o Papa!!!

Vai estar de actualidade dentro de alguns dias...Cuidado na estrada, Santo Padre !

Beijinhos
Verdinha

Osvaldo disse...

Kim;

Que polícia safado!...

O Raúl não merecia isso, mas certamente os dois já se encontraram lá em cima e o pobre do poilícia já se desculpou.
É que agora ele sabe quem é o Raúl.

Grande abraço e bjs para L&L.

da Ana e Osvaldo

Laura disse...

Um dia feliz para todas as mães do mundo. Eu estou nas minhas sete quintas!
Acabei de chegar de recolher o meu embrulho no aeroporto... bem pesado recheado que me beijou á frente de todo o mundo, me abraçou durante minutos, ah... e trocamos de lugar, quero falar com ele e falamos todo o caminho, minha nossa que bem em sabe essa injeção de juventude.
Estou a acaabr a sopa d epeixe á minha moda (Angola) e u vamos almoçar á minha mãe, como lhe custa subir os degraus da minha casa. levo gelado de chocolate, hás-de pprovar quando cá vieres,prometo, prometo mesmo...

Aquele apertadinho abraço da dolce.

Andre Moa disse...

Quando os polícias souberem distinguir / entre uma hesitação e uma manobra / com o Solnado, então, podemos rir /e a coima não será um bico de obra.
Abreijos
André Moa

Teté disse...

Concordo absolutamente: esses polícias 'à moda antiga' eram uns autênticos algozes! Nesse aspecto, a polícia (de trânsito, e não só!) tem mudado bastante: felizmente já não andam aqueles senhores barrigudos e bigodudos, quase analfabetos, a demonstrar a sua prepotência por via da farda!

Mas que hoje há para aí muito "famoso da treta" a puxar dos galões, para ultrapassar filas e receber regalias que acham que merecem, não tenhas dúvidas! Muito diferente dos verdadeiros artistas, daquele tempo... :)

Beijocas, Kim!

Parisiense disse...

Eram ambos grandes artistas e desde bébé que ouvi falaer de ambos....mesmo lá longe em Africa.

Bela historia sem duvida.
Beijokitas

Anónimo disse...

Seve disse...

Um célebre embaixador de Portugal (Marcelo Duarte Mathias), nas suas memórias: De Raul Solnado hoje ao almoço (no Arlequim) ouvi esta definição lapidar do actual Presidente da República (1º. ministro naquela altura)-"Cavaco tem os defeitos que os portugueses gostam".