29 de junho de 2009

MAU TEMPO NO ANAL - André Moa



Nem o etéreo Nemésio discordará de Moa, nem o semi-plágio do título se refere ao mesmo canal. É o jogo das palavras, aqui muito bem explanado, baseado num grave problema de saúde do autor. Uma lição de optimismo e amor à vida
André Moa, poeta, escritor, advogado, irmão de coração do nosso amigo, Osvaldo.
Do seu último livro MAU TEMPO NO ANAL, retirei alguns excertos que a seguir transcrevo.

As guerras do Senhor Recto e da Dona Próstata

… Há quem se preocupe em vida com a sua morte, com os detalhes do seu funeral.
Há quem adquira, ainda vivinha da costa, o caixão e o guarde debaixo da cama ou atrás da porta.
Há quem deixe, como manifestação de última vontade, ordens e regras sobre o seu próprio féretro.
… Era o que faltava pretender impor as minhas ideias mesmo depois de morto.
Concedo a quem quiser fazer o frete de tratar do meu funeral, inteira liberdade de decisão. Tanto me faz ir de burro como de cavalo, vestido ou nu. Tanto me faz apodrecer numa valeta como num mausoléu. É-me indiferente, depois de morto tudo me é indiferente, ser enterrado ou cremado, que façam de mim uma múmia ou espalhem as minhas cinzas num roseiral ou numa estrumeira. Quero lá saber de missa presente ou padre ausente. Isso fica a cargo e a gosto de quem ficar com a incumbência de me remover.
É isso que desejo que de mim façam na hora de se desfazerem de mim. O que bem lhes apetecer. Quero lá saber, já estarei morto.
Como sou delicado e de orelha murcha, não me dêem ouvidos e façam de mim, livremente o que quiserem, o que vos der na real gana, o que em consciência vos aprouver.
O que eu verdadeiramente desejava, era não morrer nunca.
… Vamos à vida, que a morte é certa!

24 comentários:

Anónimo disse...

KIM
Gostei do que transcreveste e assim também diriam, mas depois de um tempo venho a dizer apenas 2 coisas:
1- Sou doadora de orgão e tecidos.
2- Se der prefiro ser cremada, mas o que fazer das cinzas tanto faz, não me importo.
Do resto, quem tiver essa incombencia que decida, pois já tive nessa situação e não gostei nada, é muito dificil.

SPUK

Osvaldo disse...

Caro amigo Kim;

Caramba, e agora como vou comentar?!...

Ao publicares este post dedicado ao meu irmão de coração e conterrâneo, André Moa, prestas-te um grande serviço aos que, com mêdo, não avançam e "morrem nas trincheiras".

A história do Moa é algo incrível e claro, não serei eu a contá-la mas sim este homem de ferro, que contra ventos e marés, entre trancos e barrancos venceu todas as aventuras e desventuras da vida menos uma... mas com a sua força hérculea venceu a morte, esta morte que ele sempre odeou mas nunca temeu; foi dele que um dia escutei numa das nossas amenas conversas regadas pela doce Carolina, a seguinte frase;
"Irmão Osvaldo, devido às circunstâncias, proíbo-me a mim mesmo de morrer, quando o mais fácil seria isso acontecer. Mas tenho que ser mais forte que ela e ela, a morte, não sabe com quem se meteu,..."

Este meu irmão, homem dos Vales do Norte, das terras de Tabuaço, que subiu serras de granito e desceu vales de xisto, que brincou com os medos dos ventos gélidos da Serra de Chavães, também teve os seus cueiros lavados nas águas do Ribeiro da Moa e quem bebeu dessa água antes de provar os néctares do Deus Baccus, não será um qualquer "carrosseiro de almas" que lhe fará medo...

Homem de Leis e de Letras, doutor em todas elas, é no amor à familia, aos amigos e à sua terra, que encontra forças para desbravar sortes, sejam elas madrastas ou consortes.

Grande humanista, é na poesia com Odes ao seu dourado Douro que se repousa entre duas batalhas que o levarão a vencer o confronto do destino.

Grande irmão, obrigado pelo belo exemplo de força e coragem,... Grande Kim, obrigado pela tua amizade e humanismo.

Um abraço comovido do
Osvaldo

Maria disse...

Kim:
Depois de ler o teu post e o comentário do Osvaldo, vou procurar o livro, sem falta.
A maneira como ele fala do próprio funeral, arrepiou-me porque me fez lembrar palavras muitas vezes ao meu pai.
Grande homem deve ser. Quem fala assim, tu cá, tu lá com a morte, tem que ter muita coragem. Tanta, que não creio que ela vença.
Beijinhos para ti, Osvaldo e André.

Laura disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laura disse...

Quando eu morrer!... (para que cumpram minha vontade!)


Quando eu morrer, por favor
Não me enterrem,
Dêem-me ao fogo ardente,
Que arderá sem queimar,
Meu corpo incandescente.

Quando eu morrer, por favor,
Não me enterrem,
Peço-vos filhos queridos.

Deixem que arda até ser pó,
Depois repartam ao meio,
E deitem metade
Na terra que me recebeu em seu seio,
E a outra metade, levem-na.
Ou peçam a qualquer viandante,
Que vá para a minha terra distante
E me espalhe sobre a terra
Sobre o mar.
Pois foste tu, Luanda,
A terra que mais profundamente
Me soube amar…



Kim, é esta a Poesia de que falei à mesa quando do almoço de caril... está no meu livro o réstias de Sol, e já pedi aos filhos que se desse, gostava que fosse assim, aliás ainda não descartei de doar meu corpo á Univ do Minho para estudo de ouvidos estragados, e por aí fora...mas as cinzas podem dá-las aos meus filhos e eles têm amigos que viajam para Luanda e sempre podem fazer o que pedi...

O André Moa, Poeta sim senhora, Poeta que assusta a morte, e faz ele muito bem. Que Deus o ajude e tenha a paz de que precisa pois quem sabe que ela ronda por perto, deve sentir angústias sem fim...
Um beijinho da laura..

(gostaria muito de o encontrar no nosso encontro, de o abraçar e falar, falar com ele de alma na alma porque os Poetas entendem-se.
Acabei de receber email do Osvaldo, onde falamos no nosso encontro. Vai ser um achado podermos abraçar-nos todos...)

(Fui eu que apaguei aquele comentário, tinha uns erros imperdoáveis..)

Parisiense disse...

"Vamos á vida que a morte é certa"
Esta é a mais pura verdade.

Concordo perfeitamente....que interessa o que façam do n/corpo depois de mortos???
O que interessa é o que fazemos em vida....isso sim é que é importante.

Bisous mon ange.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Também sofri desse mau tempo, mas o meu foi na ligação ao intestino!
Felizmente, parece que o mau tempo acabou!

Carla D'elvas disse...

O Diário DE UM PACIENTE II e OLHAR DE XISTO estão na minha rota de blogues :)

tenho uma tia, linda e Duriense, que nas horas vagas lá do cume da torre de controlo... outras da sede da NAV, envia-me miminhos!... foi assim, que descobri o Moa ;)
O livro è da bendita tia. li-o no sábado.
é o relato do homem que sobreviveu e enganou a morte, com sangue, suor e lágrimas.
é um hino ao optimismo. um testemunho a que nenhum doente se deve furtar.
aqui, o melindroso, o menos valente è troçado e aligeirado. é mordaz.
gostei, particularmente, da parte em que escreve sobre as suas relações com Deus e a indiferença perante o fenómeno do divino, a serena preparação para a morte, venha ela quando vier.
ri-me, muitas vezes :)
é um livro singular.

aos hesitantes, deixo a dedicatória do livro:

“A todos quantos necessitam, necessitaram ou venham a necessitar de uma palavra de coragem que os ajude a suportar e a superar os reveses da vida”.

É URGENTE esta leitura, moços e moças :)

beijokinhas (doces!)

Laura disse...

Carlinha, ah, eu vou conhecê-lo de certezinha e ele falará comigo das suas certezas e das incertezas, também, porque todos as temos...Beijinhos.Já estou preparada para ir apanhar onde nem devia..ou seja, onde as galinhas apanham...raio dos exames e quem sabe, noticias boas ou más...também digo a mesma! Que importa, quando for, vou e mais nada...

Anónimo disse...

Seve disse...

Ou melhor, alguém um dia disse:

"Aquilo que chamam morrer não é senão acabar de viver e o que chamam nascer é começar a morrer. E aquilo que chamam viver é morrer vivendo. Não esperamos pela morte, vivemos com ela perpetuamente."

Unknown disse...

Deve ser um livro interessante pelos mais variados motivos. Ainda não conhecia.

Beijinhos, amigo

Zé do Cão disse...

Então não querem ver que o Zé, este gajo que diz a toda a gente que não sofreu de nada, que não faz exames nem analises e que brinca com tudo cono se fosse um menino de 15/16 anos, ao ler o titulo "Mau tempo no anal" lembrou-se imediatamente que já em cerca ocasião fez um exame aos intestinos (talvez ai há 40 anos ou mais)e se o Dr. não se precavia com um "salva colinas" de ocasião, tinha mesmo ido a pique.
Parabens ao Dr., lutador que com humor goza a vida.
Aos seus amigos pela amizade que lhe dedicam, um forte abraço.
(Já agora, para quem não sabe. Na Espanha existe um medicamento contra a diarreia que se chama "SALVA COLINA." Deve acompanhar os montanheiros.
Força a todos e que a morte venha tarde, não faz cá falta nenhuma...

Teté disse...

Esse título pareceu-me curioso, dado ser tão semelhante a outro do Vitorino Nemésio, mas depois de ler este teu post acho que entendi o porquê.

Enfim, que corra tudo pelo melhor, tanto a saúde do autor, como o sucesso de vendas deste livro.

Beijinhos!

Anónimo disse...

Bom livro, mt bom mesmo
É sempre necessário escrever .
Já sublinhei a minha VONTADE DE VIVER com sangue (transfusões) diárias e continuas, a verdade é que quando estive perto da morte senti que preferia a vida e aqui estou...surpreendentemente para mts
mas consegui, reforço... BOM LIVRO
Como diz o André Moa..."Vamos á vida que a morte é certa" eu costumo citar " Goza a vida porque vais passar muito tempo a dormir o sono profundo" :-))

mts parabéns pelo blogue.
bj

O Encapuçado disse...

Ai Andre não vamos nada passar a vida a dormir profundamente, do outro lado..Ali há sempre que fazer a ajudar os que deste lado, aind alutam com as suas dificuldades...Nem querias mais nada André Moa!...Vais trabalhar e de boa vontade, pois o teu coração é de boa gente..Beijinho e havemos de nos abraçar...laura..

Kim disse...

Spuk - Fazes muito bem em doar os teus órgãos. Para que é que eles servem depois de morta?
A nossa mentalidade ainda não percebeu bem isso.
Osvaldo - Moa é de facto um homem de muito coragem. Como age e com reage. Gostei de o descobrir.
Maria - deves ler o Moa. Até dá vida aos mortos!
Laura - Quando tu morreres quers aquilo que eu quero. Não me enterrem na lapinha.`A única diferença entre nós é que eu não quero regressar a lado nenhum, apenas ao pó. E tu sonhas com África.
Parisiense - O que de facto conta é o que fomos nesta vida. Como eu não fui grande coisa, só quero tornar-me pó.
Carla - As relações de Moa com Deus, são um Mau Tempo no Canal.
Os hesitantes descobrem o seu caminho consoante as frustações.
Bela tia a tua que se preocupa com as luas que te rodeiam.
Roderick - Agradece a Alguém pelo mau tempo já passado.
Zabour - É um livro interessante. Não mais vais temer a morte.
Zé do Cão - foi pena o Doutor ter-se precavido. isso daria matéria para mais um dos teus hilariantes posts.
Tété - A piada esta na analogia do título. Serve a realidade e confunde os menos atentos.
Anónimo - É sempre peferível sentir a vida. Às vezes até dá fome. Transfusões? Sim, quando é preciso!

Anónimo disse...

Kim
As transfusões foi o necessário para me tarzer de volta a vida:-)) e foi com essa FOME de viver que encaro a vida com prazer
só quero viver um dia de cada vez, nada de pressas, reina a calmaria :-)

O Encapuçado disse...

Kim; sonho sim, sonho andar por lá, e qual pó? deixa-te de treta se sabes bem que és uma alma IMORTAL!... Tão simples assim, se fosses um ser que acredita em voltar a ser pó, não serias o belo SER HUmano que és...nanja que não me convences, o lado de lá existe!... E que bom que assim é!... Beijinho e grande abraço a ti por quem sinto muito carinho!. laura..ai que te dou uma espanadela e vais ao pó!...Irra que nunca mais é dia Setembrino...

Andre Moa disse...

Caríssimos Kim e bela companhia:

Cheguei aqui pela mão amiga do Osvaldo, nosso amigo comum e meu 'irmão' do peito.
E que de surpresas tão agradáveis, gostosas e profundas! Aturdido e confundido (e com sono e cansaço; acabei de chegar de Tabuaço, onde, em Setembro, nos havemos de encontrar e conhecer melhor)não sei dizer mais nem melhor, senão bem-hajam todos.
No Mau tempo no anal falo do primeiro cancro, mas a verdade é que acabo de sair de uma luta titânica com um segundo cancro, agora nos pulmões. Daí que o Segundo Diário vai chamar-se (já se chama) Guerra nos Bofes.
Um tanto ainda depauperado e preocupado, não poderei andar a saltar de blogue para blogue, como desejaria, se tivesse mais tempo e mais saúde. Daí, pedir-vos encarecidamente que passem pelo meu blogue onde poderemos conversar com a frequência e a profundidade que temas como os que vós aqui realçastes merecem ser tratados
Muito obrigado a todos, caros amigos. Até ao meu blogue se fizerem o favor e quiserem dar-me esse prazer. (Julgo que bastará carregar no meu nome acima para lá chegarem. Sempre que me sentir com força, passarei por aqui, que bem o merecem todos: o Kim e a sua "troupe". Gostei muito de todos.
André Moa

O Encapuçado disse...

Ergo minha taça cheia do mais belo espumante que conheço ! À Amizade com letra grande, e ao AMOR, pois através da amizade, entramos pelos maravilhosos caminhos do AMOR!...E nest momento digo apenas ; AO MOA, onde o nome apena sprecisa de mais uma letrinha, pequenininha mas que fará sentir a diferença, Ao MOA com AMOR!...e segurem-me que lá vou eu a caminho das letras do homem que aprendi a amar, através das letras do KIM!..

O Encapuçado disse...

Mau, mau e mau, o canal do Moa está fechado e só aberto a barcos ancorados... Vou ver se entro plas janelas...Beijinhos.

Je Vois La Vie en Vert disse...

Olá Kim,

Quando cheguei aqui, pensei que me tinha enganado : a ver o Osvaldo na companhia do André Moa que já visitei e que me fez rir com as suas descrições muito interessantes !
É um homem de coragem, sim e com muito humor !

Quanto ao assunto da morte, toda a gente sabe que a Verdinha gosta é da vida e mais ainda por ter estado em riscos de perdê-la aos 28 anos mas tenho umas vontades bem definidas para a altura em que for embora desta terra : gostava que todos os meus amigos estivessem presentes e deixassem uma flor em cima do meu (mais simples possível) caixão porque gostava de ser coberta de flores e não quero coroas que acho SINISTRAS. Gostava sim de ter uma missa cantada pelo coro onde sou soprano porque vou todos os domingos à missa com fé e gosto. Não desejo ser cremada porque tenho medo do fogo. Por último, gostava muito de ser enterrada numa campa relvada com uma simples cruz branca com o meu nome (tipo cimetérios americanos).
Sou um pouco exigente, não acham mas seriam as minhas últimas vontades....
Medo de morrer, não tenho mas medo de sofrer tenho sim e acho que ainda sou jovem para isso e voto PELA VIDA !


Somos todos diferentes e é esta diferença que nós torna especiais !

Beijinhos da Verdinha

O Encapuçado disse...

Verdinha, ainda não parei de rir, porque como andos empre a esvoaçar pelos blogues, os nossos e pouco mais, entendi que tinhas colocado as tua súltimas vontades noi teu post do barbeiro de deus, e vai dai..olha, foi um riso que nem te digo, assim, queme stiver interessado em ler, ora, passe lá e diga se não era caso para rir...
Eu quero ser cremada, os bicharocos vão ter pouca sorte comigo, ficam a dieta...não vou ter os meus filhos suspensos d euma campa onde estarão carnes a apodrecer, dispenso, mas, se não der, é isso aí, um caixão simples, de tábuas de alguma casa que ruiu...uma campa rasa, tão rasa como a relva que a cobrirá... e se me avisares em que dia te vais, claro que estarei por lá com uma florzinha, nem que seja roubada de algum campo por perto, para que chegue a ti, viçosa como eu te acho...
Minha nossa, nem sabes o quanto me ri a escrever o coment no teu barbeiro de sevilha, como não encontrava o post que falaste, pensei que era not eu blogue...beijinhos e que esse dia ainda demore, assim tanto...

mariabesuga disse...

Pois tem razão o André Moa. Depois de morto tanto faz... até porque "a morte é coisa de um momento só. mesmo que doa, é um instante, depois de acontecida, é só a morte e morre junto".
Já tinha passado bo espaço dele e vou voltar lá.
Como bem dizes, Kim, lição de vida que só pode dar-se em vida por quem lhe sabe dar sentido e valor.

Abraço