3 de abril de 2008

Forcados da coragem







Não sou grande amante de touradas, mas admiro imenso a valentia do touro e a coragem do toureiro.
Há dias, enviei ao JRoma um pequeno filme, onde um forcado, inanimado na arena, é protegido pelos outros forcados que se deitam sobre ele, ficando todos à mercê da fúria do touro. Tal gesto comoveu-me imenso e dias depois recebo do José Romano, o que a seguir reproduzo (sic).
Às vezes - o espectáculo acaba mal!



AMIGO KIM


Muito me apraz tocar num assunto, que deveras, acho melindroso pela sua complexidade.
Agradeço a tua atenção de me teres enviado as imagens, no mail com o nome «camaradagem».
Aquilo que me foi dado observar não me espanta nada, o que na realidade me faz pena é que neste país a cultura só existe nas, ou com as universidades, do saber dos livros.
Sei que me conheces como se teu irmão fosse e o que te vou escrever é só exclusivo, da minha opinião.
Aquele toiro faz parte duma elite daquele espécime, porque ele sabe quem teve a ousadia de o desafiar cara a cara como se diz na gíria taurina, podiam lá estar vinte pessoas, mas ele procura sempre o tal.
A bravura, a casta, o terapio, a crença natural estão lá.
Escrevo em primeiro lugar sobre toiro propositadamente, por ser ele a excelência da festa brava. Quem cria animais daqueles, só por carolice o faz.
Começam por bezerros bem tratados, passam a Príncipes quando garraios, toiros no estado adulto e então são reis, vivem três vezes mais do que qualquer boi para abate no talho, sofrem dez minutos ou meia hora, não se preocupam com a economia nem pagam impostos.
A semana passada em Espanha foram elevadas bem alto as cores de Portugal em Espanha por um exemplar da ganadaria Pinto Barreiros pela sua bravura. Também os cavalos Lusitanos são um bom produto português, mas isso falo noutra altura.
O toiro é um livro de estudo; uns são frontais e directos, honestos ou nobres nas investidas, outros são falsos e ao menor descuido, traiçoeiramente fazem das suas.
Gente com muita paciência, saber e custos ao longo dos anos, às vezes séculos, vão fazendo o apuramento de raça.
Quando não houver sentido de esta espécie existir, por favor não os coloquem num jardim zoológico, algures em qualquer parte, só porque são «amigos dos animais».
Hoje em Portugal criam-se perdizes em cativeiro, para as soltarem em coutadas, que nem voar sabem e correndo pelo campo encaminham-se para as chamadas portas, onde estão uns senhores barrigudos sentados num banquinho e BBUM!!:::, não custa nada, que grande desporto!....
Quanto à tourada em Portugal não gosto, muito público, mas ignorante não percebem nada, estão lá, porque fica bem, batem palmas, porque toda a gente bate, é um ambiente giro, porque junta-se muitas classes sociais e cai bem, dizer-se qualquer coisa sobre a violência sobre os animais à saída.
A tourada cá na nossa terra está entregue à fidalguia costumes antigos, nenhum dos nossos reis morreu em campo de batalha, mas sempre foram heróis para o povo.
Sendo um espectáculo pagão quase medieval, penso que não tirámos proveito do que se podia ter aprendido com tradições que ainda hoje, nos, podiam ser úteis se estivéssemos à altura de entendermos toda a leitura desse espectáculo.
Que grande canção Cavalo à solta de Fernando Tordo.
Agora vou descrever a acção dos forcados e como a «tourada é perigosa»!
Claro que ao dizer isto, tem um segundo sentido. Vamos então ver quais são os perigos.
Os forcados representam um grupo de pessoas, sendo um todo, pelo espírito de grupo.
A honra máxima é quando um membro do grupo é indigitado para pegar a cara do toiro, nem todos o conseguem, mas com muita preparação e coragem têm a obrigação de tentarem.
Nem sempre as coisas correm bem, e nestas imagens estão bem patentes as atitudes de um corpo só, unido na protecção de um membro seu, a elevação máxima do ser humano, é quando se dispõe a dar a vida pelo seu semelhante, em defesa da causa.
Se tivessem cultura de observação tauromáquica veriam, que numa qualquer obra, que corresse mal, todos dariam o corpo ao manifesto, assim como no êxito, tudo seria repartido de igual maneira.
A tourada é muito perigosa!
Vamos aplaudir quatro, cinco, seis cavalos, viva a fidalguia! Abaixo a luta frente a frente! Viva a desigualdade! Viva a hipocrisia!
Ainda estamos em estado latente, que se acabe com as nossas tradições, vamos imitar quem? Sem passado seremos párias
Eu mudaria o nome da tourada a cavalo para CIRCO DAS CAVALHADAS e até o Sr Cardinali podia entrar.
Não quero com isto, esquecer grandes nomes como Mestre João Núncio, ou
Simão da Veiga. Haviam regras dignas.
Hoje em Espanha a arte de rejoneo já nos ultrapassou largamente e com cavalos lusitanos lamentável.
Sim somos medievais!
Como é que o povo pode entender a ópera ou o ballet?
Com touradas destas e futebolzinho de subuteo onde a beleza das melhores jogadas são feitas fora do relvado.
Adoro a cultura dos TUGAS comigo incluído.

15 comentários:

Anónimo disse...

Este blog anda interessante. Polémico. Vivo!
Quanto às touradas, o único espectáculo que conheço com morte anunciada, para além da caça, é coisa que não me atrai. Em 99,9 % dos casos sabemos quem vai morrer e aplaude-se a morte.
Deem-lhe a volta que derem. Gladiadores destes tempos, não me revejo nessa "inteligencia contra a força bruta e irracional".
Tem nome e chama-se BARBÁRIE.
jc/.

Carla D'elvas disse...

Cultura é tudo aquilo que contribiu para tornar a humanidade mais sensivel, mais inteligente e mais civilizada... A VIOLÊNCIA , o SANGUE, a CRUELDADE, tudo o que humilha e desrespeita a vida... JAMAIS poderá ser considerado "arte" ou "cultura".
A VIOLÊNCIA é a negação da inteligência.
Uma sociedade justa não pode permitir actos éticamente reprováveis (mesmo que sejam tradição), cujas vitimas directas... são milhares de animais.
Só pode permanecer como tradição o que engrandece a humanidade e não os costumes aberrantes que a degradam e embrutecem.

TOURADAS... só das outras ;)

Anónimo disse...

Os gladiadores andam por aí.
Nas auto estradas,nas ruas,as pontes Guantanamo,Casa Pia e arredores,apitos de todas as cores,sem contarmos com a escravatura,não prezo a morte nem o sangue,provávelmente não me fiz entender.
refiro-me ao animal ,como espécime,a um comportamento social que bem conhecemos,e a uma coesão em extinção

RS disse...

Amigo Romano. Excelente dissertação. Mas quanto ao espectáculo "Tourada", partilho da opinião de que se trata de uma barbárie, não obstante os maus exemplos com que nos deparamos diáriamente e que referiste.
Quanto à coragem demonstrada pelos forcados, no filme, é realmente emocionante, assim como emocional foi a união e mobilização do povo português na defesa da causa Timorense.
E não querendo defender a Causa Real nem a fidalguia, D. Sebastião morreu no campo de batalha em Alcácer Quibir.

Anónimo disse...

Eis um tema deveras polémico mas... até por isso acho interessante, quando discutido com seriedade.Sou um adepto da festa brava e depois de ler a opinião do meu amigo jroma nada mais tenho a acrescenatr ...de momento.
Um valente abraço !

Anónimo disse...

Li muita banda desenhada,era oque havia, para quem trabalhava, aos doze treze anos,e lia para matar o tempo no eléctrico.Não esqueço o paralelo, que sempre estabeleci com a nossa H de P,lendo as aventuras do Princepe Valente,era tudo tão côr de rosa.
Acho que fizemos coisas lindas e em Timor, foi fora de tempo

Anónimo disse...

Parece que nos estamos a desviar da Tourada.
Timor, Casa Pia, Guantanamo, Alcácer Quibir, D.Sebastião, Banda Desenhada, Futebois e Apitos, nada disto adianta nem é chamado ao Blog. São outras questões.
Mea Culpa, porque tambem eu encontro alguma beleza na estética taurina-espanhola.
Agora que é Bárbaro e primitivo, É!
jc/.

Anónimo disse...

A arte de tourear pode ser considerada bonita, mas perde toda a beleza quando faz sofrer física e psicologicamente os animais.

Isabel

Anónimo disse...

Não suporto a tourada,o massacrar do animal...
Admiro sim, o cavalo/cavaleiro, aquela dança que ambos fazem de provocação ao touro, não o espetar da bandarilha em si.
Também todo o trabalho do grupo de forcados. Apenas e só, tudo o resto não tem o meu aplauso.
bjinho
bela

Carla D'elvas disse...

A "FESTA BRAVA" é uma tradição de origem religiosa... e que se manteve ao longo dos séculos por influência da IGREJA que continua a esforçar-se, por manter vivo este espectáculo CRUEL.
A Liga Portuguesa Contra o CANCRO está envolvida nesta vergonha.
A Santa Casa da Misericórdia é a proprietária da maior parte das praças de touros...
Algumas marcas... como a Portugal Telecom, continuam a patrocinar eventos de sangue.
A RTP e a TVI, contribuem vergonhosamente, para a perpetuação desta atrocidade, organizando ou patrocinando touradas.
Como se não bastasse, algumas associações de estudantes, promovem este espectáculo...
A tauromaquia, é acima de tudo e independentemente da sanidade mental dos que troturam ou matam animais, um negócio que rende milhões a todos os intervenientes.
É por essa razão que a tourada continua...

Je Vois La Vie en Vert disse...

Também não gosto muito de touradas, a vista do sangue me incomoda mas gosto muito de ver a valentia dos forcados. É preciso coragem para enfrentar um animal tão poderoso e já bastante exitado !
Beijinhos verdinhos

Anónimo disse...

Agradeço a viva participação dos meus amigos e espero não ter ferido susceptilidades,mas como eu tinha dito este assunto é polémico.
Eu respeito o vosso ponto de vista.
Não posso deixar de acentuar, que este mundo é violento e a barbarie existe e não é exclusiva nos touros

Rita Loureiro disse...

Não gosto muito de touradas, mas admiro bastante aqueles que adoram e vivem intensamente a profissão, a eles uma medalha de coragem.
bjs rita

Anónimo disse...

Excelente J. Romano!!!!!! Eu mesmo, tenho as minhas ambivalencias sobre este assunto.Descoloco-me já alguns anos a Barrancos, por altura das festas da Vila, nãom sou apreciador de Tourada. gosto dos Forcados nas Pegas e tenho uma enorme admiração pelo "Toro".. nunca vi a morte do Animal, normalmente desloco-me para um café e bebo um " Tinto de Verano".. em Honra do "Toro" e daqueles que tambem com coragem porpocionam um espectaculo de cor e tradição.. Preferia de qualquer modo que não existisse Morte.. Á uns anos tive a oportunidade de falar com um Amigo de Barrancos, ja com alguma idade que me explicou o sentimento desta gente e o respeito ( por incrivel que pareça) que tem pelo "Toro".. - O "Toro" foi criado para ser morto na Praça ( Arena ) só assim podemos honrar esta criatura.. É simples nu e cruel ?!?! mas realmente tem o seu quê.. Da minha parte, os meus respeitos..

Pantas

Anónimo disse...

soy espanhola y me encanta los forcados, quizera yo ser tabiem forcada