

André Moa, poeta, escritor, advogado, irmão de coração do nosso amigo, Osvaldo.
Do seu último livro MAU TEMPO NO ANAL, retirei alguns excertos que a seguir transcrevo.
As guerras do Senhor Recto e da Dona Próstata
… Há quem se preocupe em vida com a sua morte, com os detalhes do seu funeral.
Há quem adquira, ainda vivinha da costa, o caixão e o guarde debaixo da cama ou atrás da porta.
Há quem deixe, como manifestação de última vontade, ordens e regras sobre o seu próprio féretro.
… Era o que faltava pretender impor as minhas ideias mesmo depois de morto.
Concedo a quem quiser fazer o frete de tratar do meu funeral, inteira liberdade de decisão. Tanto me faz ir de burro como de cavalo, vestido ou nu. Tanto me faz apodrecer numa valeta como num mausoléu. É-me indiferente, depois de morto tudo me é indiferente, ser enterrado ou cremado, que façam de mim uma múmia ou espalhem as minhas cinzas num roseiral ou numa estrumeira. Quero lá saber de missa presente ou padre ausente. Isso fica a cargo e a gosto de quem ficar com a incumbência de me remover.
É isso que desejo que de mim façam na hora de se desfazerem de mim. O que bem lhes apetecer. Quero lá saber, já estarei morto.
Como sou delicado e de orelha murcha, não me dêem ouvidos e façam de mim, livremente o que quiserem, o que vos der na real gana, o que em consciência vos aprouver.
O que eu verdadeiramente desejava, era não morrer nunca.
… Vamos à vida, que a morte é certa!