19 de junho de 2010

José Saramago - meu amigo?

O meu filho Luís telefonou-me e à laia de segredo em primeira mão, diz-me apenas – morreu o teu amigo!
Saramago não era meu amigo, nem me quereria conhecer. Era apenas um grande escritor.
Seria uma falsidade minha vir agora aqui fazer a apologia duma pessoa que ainda há pouco tempo critiquei. É que depois das pessoas morrerem o seu estatuto eleva-se e passam todas a ser sensacionais. Não será o caso de Saramago já que este era mesmo sensacional, apesar dos defeitos que lhe sentia, mas perdoem-me os seus fãs por tal ensaio de cegueira.
Saramago conseguiu surpreender-me com a sua explicação do porquê de não acreditar em Deus, da mesma forma que me surpreendeu com a ironia da calúnia contra O mesmo.
Ora isto não tem nada a ver com a sua inegável qualidade literária nem com o merecer do reconhecimento público da grande figura que foi enquanto escritor, (o maior, depois de Camões, segundo o meu amigo Seve). Pessoalmente até penso que Saramago é mais conhecido no estrangeiro do que Camões e terá certamente contribuido mais para a divulgação da lingua lusa do que este.
Agora o que eu não consigo é dissociar a pessoa em si, do escritor, mas também não quero ter a veleidade de julgar uma pessoa que não conheço, só porque o seu ar sisudo me empurra para outros campos que não os da pessoa lúcida que eu julgo ser, suficientemente capaz de destrinçar onde começa a cultura e onde acaba o cidadão.
Já dele ouvi dizer, que era uma pessoa extremamente afável e simpática, como também já ouvi, em tempos não muito distantes, alguns impropérios e diatribes, que o momento não aconselha a enumerar pelo respeito que a sua memória merece.
Às vezes dou comigo a pensar na máxima que me tem seguido ao longo da vida - "os grandes amores começam pelo ódio." Não que alguma vez tenha odiado José Saramago, pois nunca odiei ninguém, mas que não me caiu no goto, lá isso não, logo, certamente estará no rol dos meus futuros grandes amores.
Maradona também foi o maior jogador do mundo e ficava-se por aí. Apenas isso, o que não é nada.
Nenhuma cultura ou erudição fazem dum homem aquilo que ele não é. Nenhuma sapiência se sobrepõe à grandeza humana, por isso fica-me o resto dos meus dias para descobrir o seu lado cinzento, enquanto homem.
Não posso criticar uma pessoa sobre a qual quase nada sei, que me perdoem os que dele assim não pensam, mas não seria coerente comigo mesmo se agora que a personalidade física desapareceu, viesse engalanar a coluna dos que o vão exaltar.
A este gigante que das intermitências da morte se libertou, deixo um recado.
- Deixa lá Zé! Apenas me vou lembrar da tua grandeza literária e esquecer as coisas mesquinhas com que esta efémera passagem terrena nos vai consumindo.

32 comentários:

Carla D'elvas disse...

Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

[José Saramago]


comecei a encantar-me com Saramago tarde demais. o preconceito e o mau feitio sempre fez sombra ao homem e às mulheres e eu só consegui enxotá-lo e abrir o peito há pouco mais de 24 horas quando a morte me afiançou do seu talento... e das palavras bonitas...
... é que isto de confiar no outro lado é outra coisa...
... e devia ter começado mais cedo. é esta a sensação envergonhada com que estou depois de o ler... na morte...
... juro: - isto irá valer-me para o resto dos dias.
afinal a cegueira antecipada nunca fez bem a ninguém. muito menos a quem quer cumprir-se em tantas palavras e em tantos sonhos sonhos...
... estas emoções, certamente, não seriam tão grandes se não ouvisse a voz familiar e bonita de um amigo e colega de longa data a contar-me da bondade incomensurável de Saramago. o homem para lá da escrita. e eu, coração de manteiga, a acreditar: ontem o meu coração sangrou um bocadinho mais...
... amado ou mesmo odiado... encarou a vida de frente. e levou o nome de Portugal mais longe. estou grata.

... paz à sua alma... para além da palavra!


isto é muito bonito: http://www.youtube.com/watch?v=MNavjsXc12c


...um beijo Kim...

C.

Osvaldo disse...

Kim;

Compreendo a tristeza dos espanhois. É sem dúvida um dia de luto para eles!...

Um abraço e parabéns pela bela crónica.

Osvaldo

Maria disse...

Kim
Mais uma vez de acordo.
Não é agora que o homem morreu, que vou vê-lo de forma diferente.
Não me era simpático, gostei de alguns dos seus livros, não li outros, reconheço-lhe uma imaginação prodigiosa. Mas o facto de ter morrido, não me faz ver-lhe qualidades que nunca vi.
Que repouse em Paz.
Beijinho
Maria

Cristina disse...

Triste nouvelle.
Un grand poète s'en est allé...
Bisous, Kim

Anónimo disse...

Seve disse...

Esta de COMPREENDO A TRISTEZA DOS ESPANHÓIS...
E o intolerável, o mau era o Saramago, é preciso ter lata.Há muitos Sousas Laras neste triste país....

Nota:-Sousa Lara o traidor Ministro de Cavaco que recusou para Portugal um título literário Europeu, só poque era Saramago o candidato...

Anónimo disse...

Seve disse...

Está morto, podemos elogiá-lo à vontade.

(Machado de Assis)

Nota:-Cavaco Silva faz hoje um elogio a Saramago - Cavaco o maior hipócrita deste país até porque é o presidente (de alguns portugueses, parece que cada vez de menos....).

Anónimo disse...

Seve disse...

O MAIOR ESCRITOR UNIVERSAL NA ACTUALIDADE (palavras de Harold Bloom em 2006)

HAROLD BLOOM-talvez o maior especialista vivo em literatura universal

Anónimo disse...

Seve disse...

Parabéns Kim, que belíssima crónica!

Para mim é efectivamente um escritor soberbo, absolutamente divinal, o maior de sempre (mas é obviamente a opinião de um humilde leitor que vale o que vale)!

Anónimo disse...

Seve disse...

LEVANTADOS DO CHÃO-um retrato admirável do povo alentejano, um dos melhores livros da língua portuguesa.
O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS-para mim o melhor livro de Saramago.
MEMORIAL DO CONVENTO-a mais bela história de amor que li até hoje.
O HOMEM DUPLICADO-o mais simples, o mais fácil e o mais acessível de Saramago; leiam este último e digam-me se não é um grande, grande escritor...

Teté disse...

Nunca consegui ler um livro de Saramago, embora tivesse tentado. Portanto, reconheço a minha ignorância sobre a sua obra, que tem fãs por todo o mundo e, de facto, contribuiu para a divulgação da língua portuguesa. O facto de ser premiado com o Nobel fala por si! Assim, não me custa nada aceitar que tenha honras de luto nacional, não sei se vai ser enterrado no Panteão, mas certo é que o merece (apenas dois portugueses foram distinguidos com o Nobel, ao longo de um século).

Em relação ao homem e às ideologias dele - como nunca o conheci pessoalmente - a única imagem que tenho é de um homem coerente com o seu próprio pensamento. Não é por ser mais simpático, antipático, católico ou ateu que era melhor escritor. E defendia as suas ideias acerrimamente o que provocou várias polémicas.

Já na altura achei inaceitável a censura que Sousa Lara fez ao seu livro - OK, toda a gente é livre de gostar ou não do estilo do escritor - pelos motivos que o fez! E concordo absolutamente com o Seve, em relação à defesa que Cavaco fez de Sousa Lara na época, para agora depois do escritor morrer vir elogiá-lo publicamente: é um hipócrita!

Há muitas memórias curtas neste país, infelizmente! Mas, tal como digo, nem sou fã do escritor, nem do homem de aparência carrancuda (para não falar no triste episódio dos despedimentos no DN, em 1975), embora o achasse coerente com os seus ideais.

Que descanse em paz!

Beijocas, Kim!

Je Vois La Vie en Vert disse...

Gostei da tua crónica, Kim.
Reconheço-te bem nas tuas palavras.
O teu comentário, "Tu fazes cada pergunta que deixas mesmo uma pessoa com as calças na mão." no meu blog fez-me soltar uma grande gargalhada e acho que é umas das coisas que gosto de fazer na vida, RIR, e não consigo entender como uma pessoa que teve tanto êxito podia continuar sempre de trombas...

Como já o escrevi anteriormente, este escritor não me diz nada, nem pessoalmente nem literalmente porque aquilo que ouvi da sua pessoa não me agradou (quem vem de baixo não pode olhar as pessoas de cima...), não aprecio a arrogância e se muitos portuguesas não conseguem acabar de ler um livro dele, porque é que uma estrangeira ia esforçar-se, ainda por cima, conforme consta, sem ter a pontuação para a ajudar...?
Leio por prazer e não por obrigação e não é por ter recebido um prémio Nobel que vou ler o que não me apetece. Também não aprecio o preciosismo...
Agora, o escritor já deve saber que Deus existe. Oxalá se arrependa de tudo o que disse contra Ele e que descanse em paz.

Beijinhos para ti, Kim

Verdinha

Anónimo disse...

Há 20 anos, subia à cena no Teatro de S. Carlos em Lisboa a Ópera Blimunda, inspirada na personagem Blimunda de O Memorial do Convento, de Saramago.
Eu era juri de um concurso de televisão, com Carlos Walensteins e Clara Pinto Correia, e tinha-me referido ao livro de Saramago de forma elogiosa.
No intervalo do espectáculo senti uma mão no ombro e um sussurro ao ouvido: " Muito obrigado pela forma elogiosa com que se referiu ao meu livro ".
São estes gestos simples que definem os homens enormes.
jc/.

Osvaldo disse...

Caro Seve;

Quem falar bem e enaltecer a obra de Saramago é um estudioso, culto, especialista e grande conhecedor da literatura universal, os únicos com capacidade de apreciarem e criticarem a obra do dramaturgo!...

Quem não concordar ou não reconhecer no Saramago um escritor de excepção ou achar a sua obra nula, não passa de um analfabeto ou traidor da Pátria e terá que partir nas galeras para o degredo dos ignorantes!...
Bom, sinto-me bem no segundo grupo.

Caro J/C;

Mão no ombro e tapinhas nas costas já tive muitas e acredita,... nem sempre são as melhores, mas claro, há excepções.

Caro Kim;

Volto a elogiar a excelente Crónica que dedicas a Salamargo, desculpa, Saramago mas repito a minha expressão e impressão pessoal de que no fundo os mais pesarosos com a sua morte foram e têm razão de o ser,... os espanhóis e se em Portugal é um direito cívico a liberdade de expressão, então que esta minha liberdade seja respeitada como eu sempre respeitei a liberdade dos outros. Ou será que a democracia só existe para alguns?!...

Um grande abraço para os três com admiração e respeito.

Osvaldo

Anónimo disse...

Pois.
jc/.

Anónimo disse...

Caro Kim

Continua a ser um prazer ver-te expor a alma, quando sentes necessidade de te pronunciar sobre o nosso mundo, os Homens e as Mulheres que o tornam possível.

Apesar dos detalhes de temperamento, dos erros e eventuais injustiças cometidas ao longo da jornada que cada um de nós tem que cumprir, aquilo que verdadeiramente conta é a essência do retrato da nossa alma exposta.

Um abraço

Júlio Santos

Parisiense disse...

Pois eu mantenho a minha simples opinião sobre Saramago.....não é porque teve um Nobel que passou a agradar-me ....

Tentei ler vários livros dele .... mas não consegui, mesmo.

E como homem tinha as suas ideias e respeito-as ( como as de muita gente).
Mas não é por ser Saramago, que concordo com elas.

Boa crónica amigão.
Beijokitas
Cada um tem as suas e eu tenho as minhas.

RS disse...

Andei numa escola onde o Sousa Lara era professor. De cada vez que o "inteligente" passava nos corredores havia sempre um "sussurrear": "foi este que impediu a candidatura do Saramago ao prémio". E assim ficava rotulado perante a maioria dos alunos de, "pedante, sectarista e inculto"!
Eu gostei de ler o ensaio sobre a cegueira e as intermitências da morte.
Tal como gostei das suas opiniões contra o capitalismo desregulado e contra a pena de morte em Cuba.

RS disse...

Os livros que referi foram os únicos que li.

susana disse...

Estou abismada como ainda há pessoas que renegam Saramago! E pessoas cultas, incrível!
A primeira vez que li Saramago" O memorial do convento" e já foi há uns bons anos, fiquei logo rendida! Achei EXTRAORDINÁRIA a forma dele descrever e dizer as coisas.Tão lúcido, tão corajoso!Sim, porque em
Portugal, ter coragem de dizer, o que ele dizia, era um "atestado de óbito".
Quanto ao mau feitio,onde? Devia te-lo sim, para os mentecaptos! Pessoas sem cérebro!
Posso gabar-me de já ter falado pessoalmente com ele, aqui há uns anos, durante uma sessão de autógrafos na Fnac do Norteshopping! Simpatiquíssimo! Eu nunca me engano quando olho alguém nos olhos... e os dele, não eram de alguém caprichoso ou cruel.
Só por ele questionar a religião católica, querem crucificálo como a Jesus Cristo? Ele está cheio de razão, eles vivem na opulencia, ajudaram Portugal a cair no abismo. Desde a edificação do convento de Mafra que Portugal abriu um buraco na sua economia que nunca mais conseguiu tapar e o resto sãO TRETAS!
E quando li "As intermitencias da morte", tive a certeza que ele era alguém que sabia tocar nas feridas. Esse livro refere como a velhice é mal tratada, é vista como um transtorno, um fardo!
ele não criticava só a política e a religião, criticava também as nossas condutas, as nossas hipocrisias!
Grande homem! Se o funeral tivesse sido no Porto eu tinha ido!
Paz á sua alma!

Andre Moa disse...

Caro Kim,
vim aqui, porque gosto de ti e gosto dos teus posts, muitos deles fracturantes, que serão os que mais me atraem. Por isso gosto de vir aqui. E de comentar os assuntos que noutro sítio, nem foco, por não se enquadrarem no meu "editorial", por se desviarem do que caracteriza o meu blogue. E os blogues são como as pessoas: cada um é para o que nasce.
Sou há muitos anos um admirador convicto e um defensor acérrimo da obra literária de José Saramago.
Soube da sua morte pelo telefone. Não vi nem um bocadinho das cerimónias do funeral. Foi coisa que me passou ao lado e a que não liguei pevas.Se calhar, porque sou apologista de que depois de morto, cevada ao rabo. Gosto da obra de Camões, e para tal não preciso nem quero saber se ele foi um putanheiro ou um extremoso amante; um bom rapaz ou um valdevinos; se foi ou não um bom combatente (não devia ser, porque não se livrou de uma estocada que lhe furou um olho). Aprecio a obra pela obra de quem quer que seja, seja o autor um filho de algo e digno de encómios ou um grande filho da puta. Aqui chegado, quase que me apetece dizer: até que enfim que o Saramago morreu, agora que tinha praticamente esgotado todo o filão da sua aurífera escrita. Daqui para a frente, e cada vez mais, o homem, com os seus defeitos e virtudes, que todos os temos, irá caindo no olvido, enquanto que a sua obra (independentemente do Nobel ganho) se irá impondo mesmo àqueles que a criticaram sem nunca a terem lido com olhos de gente, porque viam sempre antes do mais a figura antipática e por muitos odiada,se calhar sem procurar e aprofundar razões plausíveis e ponderadas para tanto. Morreu o homem, viva a obra.
Abreijos para todos os saramaguianos e saramaguistas, bem como para todos os anti-saramaguianos e anti-saramaguistas.
André Moa

Anónimo disse...

Ontem, em conversa com um amigo comum, chegámos a esta conclusão, CLARA!
Não gostam de Saramago porque ele era Comunista e assumidamente Comunista. Deixem-se de tretas e do "não consegui ler".
Mais dificil é aprender a ler do que ler Saramago e plos visto, quem não gosta, aprendeu (?).
De José Saramago já disse o que tinha a dizer. É um português MAIOR e o resto são tretas! Escreveu o que escreveu, disse o que disse, fez o que fez, tem OBRA feita. Que descanse em PAZ. Chega, PORRA.
Saneou 20 e tal jornalistas do Diário de Noticias. Pois foi. Despediu-os e mandou-os para o desemprego. Pois foi.
Sócrates fez pior - retirou o subsídio de desemprego!
E pronto. Vou dormir que já não tenho idade para me incomodar com estas merdas.
Xau "gente".
Façam o favor de ler ou plo menos juntem as letras.
jc/.

Osvaldo disse...

Caro Kim, caros amigos;

Como senti que algumas das respostas foram dirigidas à minha santa ignorância, ohhh pôrra, já citei santa, lá vêm todos meter a religião no meio, volto para reafirmar, embora a minha burrice, anlfabetismo e déficite cultural, que os mais pesarosos com a morte do senhor Salamargo, desculpem, Saramago, foram os seus compatriotas espanhóis. Compreendo que muitos tenham ficado zangados por esta frase porque são idealistas de uma Ibéria Unida e nesse caso já não haveria lugar aos nacionalismos, visto que todos seriamos espanhóis (nunca eu).
Continu-o a reafirmar como ignorante literário, analfaburro e traidor da Pátria, que adquiri alguns livros do escritor logo após a declaração da entrega do Nobel embora até aí eu não conhecesse a sua obra (?)!... Fiquei decepcionado, porque conhecendo outros autores da nossa riquissima literatura, achei que foi um desrespeito do "comité" que escolhes os laureados do prémio para com esses grandes escritores. Mas confesso que como português fiquei orgulhoso... mas por pouco tempo.

Uns dias após a entrega do Nobel, o senhor Saramago foi convidado pelo Governo Suíço e na sua passagem pelo país, o Estado de Genebra convidou-o para uma conferência na sala magna da Universidade de Letras desta cidade com o patrocinio do Departamento da Cultura. Não é necessário referir que a sala estava lotada com cerca de dois mil participantes. E foi então que eu conheci o verdadeiro "homem"!. Muitos dos que se encontravam na sala eram exilados políticos principalmente de países Ibero-americanos que procuravam nas palavras de Saramago uma palavra de esperança ou uma frase de compreensão para as situações vividas nesses países e foi precisamente o contrário ao ponto que a imagem dada era a de que no fundo eram eles, exilados políticos de esquerda, repito de esquerda, os culpados das ditaduras existentes por terem abandonado os seus países e não combaterem os ditadores. Não preciso referir que a sala se esvasiou como balão gonflável, com o grupo de exilados mexicanos em primeiro seguidos de outros!!!, perante a incompreensão da comunidade portuguesa que atónita, não compreendia o desrespeito de todos eles para com um Prémio Nobel. Era a nossa santa ignorância, repito, santa ignorância e orgulho nacionalista que não nos deixava ver a realidade.
Perante isso, a Comunidade de Lingua Portuguesa convidou o senhor Saramago para uma conferência promovida pelo SELPS (Serviço de Ensino da Língua Portuguesa na Suíça) e que engloba milhares de estudantes do básico ao universitário. Durante dois dias as professoras do básico e secundário motivaram as crianças e adolescentes a prepararem textos em português para oferecerem ao dramaturgo assim como participarem no debate sempre na nossa língua (a quase totalidade dos jovens, filhos de segunda e terceira gerações, nasceram nos países de acolhimento).
Quando o escritor entrou na sala e se deparou com tantos jovens e após olhar a imensa plateia com ar sério e fechado, pegou no microfone e dirigindo-se aos organizadores e professores, perguntou com voz de desagrado;
"O que é que estas crianças percebem de literatura?... Não me digam que é para eles que eu dou a conferência?...".

Osvaldo disse...

Dedico este "ignorante" comentário a todos os que no fundo se revoltaram com as minhas (poucas palavras) no comentário anterior, mas que rempre respeitou os comentários dos outros.
Com um grande abraço de amizade para todos...

Bom, paro por aqui, porque possivelmente o meu incultismo, analfabetismo, iletrismo e santa ignorância me digam para não continuar. Apenas quero citar que muitas dessas crianças e adolescentes, são hoje médicos, enfermeiros, advogados, historiadores, administradores, professores, etc. e são a viga mestra da estrutura do país onde vivem e nasceram sem nunca esquecerem e RENEGAREM a Pátria dos seus pais que no fundo também é a deles alienando as duas culturas num só saber que é o RESPEITO. E são essas mesmas crianças, hoje muitos deles pais que continuam a transmitir aos seus filhos o respeito por uma cultura quase milenar que nos deveria unir e orgulhar e não separar que é a imensa cultura portuguesa e se o legado histórico/cultural à eterno que seja defendido por nós e não apenas reconhecido pelos outros.


Osvaldo B. Ribeiro (que até fez a 4° classe!...).

Ps- O ter divido o comentário em dois, foi porque o sistema não aceitou o tamanho da mesma.

susana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
susana disse...

Osvaldo nem tinha lido o teu comentário, só alguns no início!
Continuo a dizer que ele não tinha paciência nem para mentecaptos nem covardes. Manteve-se fiel até ao fim, ás suas ideologias, apesar das adversidades!
Sobre ensianr literatura a "crianças", ele disse-me o mesmo, quando lhe pedi para acrescentar o nome da minha filha ( na altura uma criança),á dedicatória do autógrafo, ao que ele respondeu " ela ainda é muito nova, para ler isto" e tinha razão, se mesmo muitos adultos acham difícel ler Saramago, imaginem "crianças", ou pessoas muito jovens! Tem de se ter uma certa maturaidade para o ler e a todos os níveis!

Laura disse...

Ah, apenas imagino agora se ele tem lata para falar com Deus da forma que fala nos livros!
Há homens muito pequeninos que pensam que são apenas eles no mundo!
Mas nada que não se resolva com a passagem para o lado de lá. Claro que não acreditam, mas é apenas um pensamento meu!
E só se resolverá amanhã... um amanhã que chega para todos!

Abraço Kim e vai ao resteas ver as fotos!
Um xi a todos da laura

Anónimo disse...

Seve disse..

Ó Osvaldo chega de lamúria, chega de fazer de vítima, chega de fazer de coitadinho....já percebemos todos, não é preciso repetir tantas vezes a mesma coisa...

E também já percebemos porque é que não gostas do Saramago....

Osvaldo disse...

Caro Seve;

Antes de mais um abraço...

Não são lamúrias apenas realidades que outros não aceitam... porque se acham donos da verdade.

Agora, coitadinho... acredita que não sou e tenho bem certeza disso!. Já outros certamente não o poderão afirmar, COITADOS!...

Mas pronto, mudamos de assunto, caro leão.

Um grande, grande abraço.

Osvaldo

DAD disse...

Olá Kim!

Gostei muito da tua crónica sobre o GRANDE ESCRITOR PORTUGUÊS - JOSÉ SARAMAGO.

Abraço para todos os que gostando ou não, participaram nesta recordação bloguista do nosso grande PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA que mais cedo o teria sido se o mentecapto do Sousa Lara o tivesse vetado!
E que ninguém se melindre, pois cada um gosta do que gosto com o cérebro e o coração.

Beijinhos a todos, com muito amor a Deus também...

Anónimo disse...

Seve disse...

Ó amigo Osvaldo desculpa se te magoei.

Já tive oportunidade de te dizer que o nosso egoísmo nos leva por vezes a dizer o que pensamos sem pensar o que dizemos, por isso somos humanos.

Mas estas situações de polémica (que me fascinam pela confrontação de idéias) inevitavelmente que terão de gerar uma ou outra situação polémica (uma ou outra palavra, se calhar, descabida mas há que atender ao contexto e compreender que não há má intenção, como foi o caso).

Um abraço

Anónimo disse...

A mim não me interessa aqui, saber quem tem razão.. Eu quero é discusão.. :) :)

E a divergencia de opinioes, é sempre de salutar

Abraço a todos
Pantas

Anónimo disse...

Depois de reler o que por aqui vai e ter recebido este ensinamento por e-mail não resisti de o trancrever para a qui, pois acho que vem mesmo a propósito.

LIBERDADE-TOLERÂNCIA - RESPEITO
O MUNDO SERIA MELHOR
_______________________

Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente,
quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele vira-se para o chinês e pergunta : - Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz ?
E o chinês responde :
- Sim quando o seu vier cheirar as flores !!!...

« Respeitar as opções dos outros, em qualquer aspecto, é uma
das maiores virtudes que um ser humano pode ter.
As pessoas são diferentes, agem diferente e pensam diferente.
Nunca julgue. Apenas compreenda ».