9 de outubro de 2018

Brel - quarenta anos de saudade!



Passam hoje trinta e seis anos sobre a morte de Jacques Brel, aquele que nunca morreu.
Não é fácil falar deste gigante do palco, porque também o era na vida real. Em todos os sentidos.
Dele ouvi falar pela primeira vez em 1967. Enlevado pelas canções de Adamo, qualquer outro cantor me parecia horrível. Brel não fugia à regra. Era feio, não tinha cabelos longos nem camisas às flores, cantava como se desse murros na parede e não falava do amor que fazia os jovens sonharem.
Até que um dia, no findar dos anos sessenta, em Paris, onde eu vivia, Brel era cabeça de cartaz, no filme, MON ONCLE BENJAMIN, e várias salas de cinema exibiam cartazes alusivos ao dito, todas muito perto do meu pequeno quarto, onde desafiei a saudade de estar longe e chorei com um sorriso nos olhos, Nasceu aí a minha platónica paixão. Foi irónico ter-me apaixonado por ele, na condição de actor e não na de cantor.
Mas, afinal Brel amava muito mais do que eu pensava e falava desse amor, vociferando em ré menor!
Falava da revolta, da burguesia, da falsidade, dos desprotegidos e tuteava a morte. Filho de esbórnias muitas, intuiu que não haveria amanhã e viveu as noites como se fossem dias e os dias como se não existissem.
Gosta-se ou não dele, sabe-se lá porquê.
Ele foi indignação, violência, ternura, anti-vedeta, revoltado, apaixonado, amigo, eremita, franciscano, cantor, actor, marinheiro, aviador, tudo. Levou a vida ao extremo e não tinha meio-termo. Era tudo ou nada. Tabaco, álcool, mulheres, noitadas, todos os excessos e prazeres da vida eram o seu limite.
Todo ele era tudo! Muito! Muito mais! Mais ainda!
Brel abandonou a ribalta para se refugiar nas carícias dos ventos e nos beijos das vagas, à proa do seu veleiro, numa volta ao mundo sem final feliz. Brel "esperava por mim, qual meteque vagabundo", quando adoeceu, numa curta paragem nos Açores e foi lá que percebeu que o fim poderia estar próximo.
Quase ignorando a luta que então iniciou contra um cancro no pulmão, refugia-se nas Ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa. Vende então o seu veleiro e adquire um pequeno avião, pilotado por ele próprio, ajudando a combater o isolamento das populações mais remotas, colocando o bimotor, gratuitamente, ao serviço das populações, no transporte de pessoas e correio.
Profundamente debilitado volta a Paris para morrer a 9 de Outubro de 1978, não sem antes de deixar expresso o desejo de jazer na longínqua Polinésia, onde repousa no meio dos seus nativos, entre tufos de ternura e saudade, bem longe das luzes do efémero.
Por tudo o que foi, Brel é para mim a paixão que se sobreleva a todas as outras.
Morrem cedo quem os Deuses amam; alguém disse um dia!
Meu velho Jacques, estarás sempre comigo.
Je ne te quitte pas!

1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

Eu adorava ouvi-lo. e foi um choque a sua morte.
Abraço