Passamos a vida a fazer asneiras, julgando tudo saber e ao chegar onde cheguei, sei nada saber.
Pior ainda, é aos 18 anos julgarmos ser donos do mundo.
Do meu etéreo livro "Les aventures de Kim-Kim", rebusco os dias que fizeram de mim um homem que um dia partiu, cheio de tudo, à procura de nada.
... Não eram ainda decorridos trinta dias, que eu chegara a Paris. O meu saudoso amigo Martin andava entusiasmadíssimo em mostrar-me “la nuit parisienne”.
Desejoso de descobrir o que estava para lá da noite, levou-me à discoteca que habitualmente frequentava.
Le Touquet, ficava ao fundo dos Campos Elíseos, junto à Concórdia, e viria a tornar-se na minha segunda casa. Eu morava relativamente perto, 15 minutos a pé - 22 bis Rue Jouffroy d'Abbans.
Logo que tinha uns trocos era no Touquet que os aplicava. Sempre com o pensamento em fazer novas conquistas que me permitissem dar poiso às noites de miséria e lua vaga.
Entrámos e vi a noite a fervilhar de corpos entrelaçados na média luz. O desejo imaginava já as mais estereotipadas situações que ali poderiam ocorrer.
O tipo de música, ora mexida ora lenta, mudava de trinta em trinta minutos. Quando alguém dançava com alguém, já sabia que em princípio teria o mesmo par durante meia hora, o equivalente a mais ou menos meia dúzia de melodias, bastante esticadas.
Fiquei algum tempo a observar os ditames de tal ritual e a perceber qual era ali o meu papel, no sentido de nele me integrar.
O Martin, que lá vivia desde os treze anos, tinha-me prevenido que quando uma miúda aceitasse dançar comigo, isso era meio caminho andado para acabar a noite no seu leito. Para isso era fundamental que a beijasse no segundo ou terceiro “slow”, sob pena de não o fazendo, ser abandonado na pista.
Não conseguindo tirar isso da minha cabeça, já que em Lisboa as coisas não funcionavam bem assim, fui olhando à minha volta e todos os rostos me pareciam lindos, com corpos a chamar por mim.
O Martin, que lá vivia desde os treze anos, tinha-me prevenido que quando uma miúda aceitasse dançar comigo, isso era meio caminho andado para acabar a noite no seu leito. Para isso era fundamental que a beijasse no segundo ou terceiro “slow”, sob pena de não o fazendo, ser abandonado na pista.
Não conseguindo tirar isso da minha cabeça, já que em Lisboa as coisas não funcionavam bem assim, fui olhando à minha volta e todos os rostos me pareciam lindos, com corpos a chamar por mim.
Demonstrando estar à vontade na matéria, mas aflito como quem sobe ao cadafalso, avancei para uns olhos que me aceitavam. E aceitaram. Um aceno de cabeça resolveu a minha incerteza e caminhámos para a pista. Encostou a cabeça no meu ombro e perdemo-nos no meio da “foule”, com a imaginação a saltitar para esbórnias "à la Gardére".
Aznavour cantava “Que c’est triste Venise”. Eu pensava em "Laisse-moi t'aimer"!
Inebriado por aquele momento, fui-me empurrando para a decisão de a beijar, tal era o ritual preciso.
Tem de ser agora, pensei. Estávamos na terceira música e eu tinha de beijá-la. As minhas mãos timidamente evitavam as partes proibidas do seu corpo, já que o respeito vinha antes do desejo. Acariciei-lhe os cabelos, fiz os dedos escorregar no seu rosto, e ... os seus lábios não fugiram dos meus.
Dentro de mim ribombou o supremo trovão da glória. O mundo era meu.
Pobre Kim que se contentava com tão pouco!
Num beijo depois de outro e outro ainda, assim continuámos até parar aquela roda de embalar.
Sentámo-nos, mão na mão, e descobrimo-nos como quem encontrar-se quer. O paraíso estava tão próximo como o outono que acabara de chegar. C'est en Septembre!
As horas foram entrando pela manhã e divagado o que havia para divagar, chegou a hora da despedida.
Não sabendo bem como descalçar a bota e precisando de alimentar diálogo, perguntei-lhe em surdina:
- Sylvie, amanhã podemos voltar a encontrar-nos?
Olhou para mim e meio atónita, riposta de seguida:
- Amanhã? Mas … não vais dormir comigo esta noite?
Qual principiante atrapalhado, balbuciei:
- Claro que sim, mas … sabes, é que … humm!!! Pois claro que vou!!!
Estava dado o passo que me fez correr uma noite num segundo!
Inebriado por aquele momento, fui-me empurrando para a decisão de a beijar, tal era o ritual preciso.
Tem de ser agora, pensei. Estávamos na terceira música e eu tinha de beijá-la. As minhas mãos timidamente evitavam as partes proibidas do seu corpo, já que o respeito vinha antes do desejo. Acariciei-lhe os cabelos, fiz os dedos escorregar no seu rosto, e ... os seus lábios não fugiram dos meus.
Dentro de mim ribombou o supremo trovão da glória. O mundo era meu.
Pobre Kim que se contentava com tão pouco!
Num beijo depois de outro e outro ainda, assim continuámos até parar aquela roda de embalar.
Sentámo-nos, mão na mão, e descobrimo-nos como quem encontrar-se quer. O paraíso estava tão próximo como o outono que acabara de chegar. C'est en Septembre!
As horas foram entrando pela manhã e divagado o que havia para divagar, chegou a hora da despedida.
Não sabendo bem como descalçar a bota e precisando de alimentar diálogo, perguntei-lhe em surdina:
- Sylvie, amanhã podemos voltar a encontrar-nos?
Olhou para mim e meio atónita, riposta de seguida:
- Amanhã? Mas … não vais dormir comigo esta noite?
Qual principiante atrapalhado, balbuciei:
- Claro que sim, mas … sabes, é que … humm!!! Pois claro que vou!!!
Estava dado o passo que me fez correr uma noite num segundo!
Se por ali houvesse um buraco, nele me teria metido. Não fora a média luz do recinto, e a minha ruborizada face teria denunciado o quão imberbe me senti.
Tentando demonstrar o à vontade que não tinha, avancei então para o seu vale de lençóis, qual garanhão que não era.O dono do mundo que eu pensara ser, não passava afinal dum inóxio menino, com muitos corpos por desbravar.
Merci, Sylvie!
11 comentários:
Havia sempre uma Sylvie, pelas estórias que ouvia, que animavam a “malta” portuguesa, daí talvez a fama de que os portugueses eram muito “quentes! : )
rrrsss
Não fiques aborrecido : aos vinte anos toda a gente acha que sabe tudo!
Tem bom domingo, amigo
(...)
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Vinícius de Moraes
abç
Estamos sempre a aprender, mas julgamos sempre que já sabemos tudo.A quem isso não aconteceu, que atire a primeira pedra....
Abraço
Ultimamente tenho tomado atenção que cada vez tenho mais "incertezas" :)
Ando mais calada!
As aventuras de Kim-Kim são bem divertidas e o Aznavour...sabia as letras quase todas :)))
xx
Ahahah, e será que foste o primeiro rapazola a cometer uma gafe dessas? Olha que não... :)))
E o mesmo se diga em relação à "raparigada", normalmente ainda menos afoita nesses campos! Pelo menos a portuguesa, nesses tempos... :D
Beijocas, Kim!
Aos 18/20 anos todo o mundo pensa que sabe tudo e julgam-se os donos do mundo. Na verdade só muitos anos depois chegamos à conclusão que nada sabemos e não somos donos de coisa nenhuma.
Um abraço e uma boa e santa Páscoa
Um dia saíu à procura de tudo, pensando que de tudo sabia? Paradoxal, mas aos 18 anos e aos 80ou 90 ou 100 anos, quem não pensa que tudo sabe?
Maria Luísa
Será que a Sylvie que conhecemos há 2 anos aquando do nosso passeio entre
"Belgas" te trouxe algumas lembranças??? ;)
Beijinhos de ... Barcelona
Verdinha
Quem, aos 18 anos, não se julga dono do mundo quando tem o mundo pela frente, Kim?
Viveste e foste aprendendo, no entanto, todos continuamos a aprender!
Diziam os antigos que quem andou não tem para andar! Será?
Beijinho, querido Kim!
Sabes kim!Acho que a estória é mais agreste.Está muito soft, porque aos 18 anos, não só sabias as letras do Aznavour, como já tinhas conhecimento de muitos textos.Nessa altura com 18 anos, ninguem andava no psicólogo com aulas e traumas de sexologia.Está muito fresca!
Espero que não tenhas seguido tudo à risca com a francesa.Cá falava-se muita coisa.
Jrom
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