Todas as noites nos reuníamos na esquina da rua onde morava a maioria de nós.
Eu era já nessa altura um brincalhão nato, desde que tivesse os ossos inteirinhos, como é óbvio.
Um dia, apareci junto deles com um walkie-talk, objecto então desconhecido por todos. Fi-los então pensar tratar-se dum simples rádio transístor. Era o tempo de “Quando o telefone toca”, programa que Matos Maia apresentava na Rádio Renascença. Ter um transístor para ouvir esse programa, quase tocava as raias dum luxo e eu tinha a sorte de ter ambos.
Tinha combinado previamente com o Camacho, ele esconder-se com um segundo walkie-talk na entrada dum prédio em frente, de modo a que conseguisse visualizar-me e bem assim acompanhar melhor a brincadeira.
A ideia era encostar o transístor ao walkie-talk fazendo parecer que do outro lado, o meu, os sons emitidos fossem efectivamente os dum transístor.
Com a malta toda à minha roda, liguei o walkie-talk e este começa a debitar música, sendo que se tratava da emitida pelo transístor em posse do Camacho.
Disse-lhes então que tinha de ir a casa e afastei-me. Fui ter com o Camacho e disse-lhe que fosse ter com eles, trocando nós de posições.
“Oh malta, encontrei agora o Kim e vejam só este rádio que o gajo me emprestou!”
“Liga lá essa gaita, que está a dar “Quando o telefone toca”!
Camacho liga o rádio e para gáudio de todos, Roberto Carlos encantava.
Duas ou três músicas depois … “atenção senhores ouvintes! Interrompemos o programa para informar que foi assaltada uma ourivesaria na Amadora. A Policia Judiciária está já no encalço do presumível assaltante, conhecido pelo nome de Zé da Viola. Logo que tenhamos novos elementos interromperemos de novo a emissão.
Zé da Viola impulsionado por forças nervosas rodopia duas ou três voltas sobre si mesmo e dispara incertezas. “O quê? O que é disseram? Falaram no meu nome? Assaltei uma ourivesaria? Não acredito!
Em frente, escondido no prédio, eu gozava o panorama. Encostei o walkie-talk à boca e … “mais uma vez informamos que a P.J. procura o assaltante duma ourivesaria na Amadora, conhecido por Zé da Viola. A todo o momento se espera a detenção do perigoso assaltante” .
Zé da Viola solta um chorrilho de impropérios e … “oh malta, eu juro que não fiz nada”. Eu ouvia tudo, porque o Camacho carregava no botão para eu poder ouvir o que diziam. Passaram-se largos minutos de medo e todos os amigos que ali estavam iam tecendo considerações tentando acalmar o revoltado Zé.
Uns minutos depois … “voltamos à noticia do assalto na Amadora, temos indicações que um segundo assaltante, de seu nome Kim, também está implicado no assalto. A P.J, procura agora os dois facínoras. “ E continuava a música.
Eu estava esgotado de tanta emoção. Saí do meu buraco e dirigi-me à malta. Uma vez ali chegado, Zé corre para mim e com ar paternalista diz-me : “Kim! Tens de ser forte para ouvir o que tenho para te dizer.” Com ar de assustado, perguntei o que se passava.
“Olha, somos procurados pela Polícia. A rádio está farta de falar no nosso nome e diz que assaltámos uma ourivesaria. Vamos entregar-nos”!
Durante alguns minutos alimentei-lhe a cumplicidade da inocência, mas depois …
O Zé estava tão nervoso e nem acreditava que tinha sido uma brincadeira minha.
Passava já da meia noite e quando o tema central da conversa era ainda a cena do assalto, num televisor atrás de nós onde passava um programa de fados, ouviu-se o seguinte: “… e agora, à guitarra, Carlos Paredes e à viola …”
“O quê? Viola? Falaram de mim? Está a dar o assalto na televisão?
Zé da Viola demorou a recompor-se!
Eu era já nessa altura um brincalhão nato, desde que tivesse os ossos inteirinhos, como é óbvio.
Um dia, apareci junto deles com um walkie-talk, objecto então desconhecido por todos. Fi-los então pensar tratar-se dum simples rádio transístor. Era o tempo de “Quando o telefone toca”, programa que Matos Maia apresentava na Rádio Renascença. Ter um transístor para ouvir esse programa, quase tocava as raias dum luxo e eu tinha a sorte de ter ambos.
Tinha combinado previamente com o Camacho, ele esconder-se com um segundo walkie-talk na entrada dum prédio em frente, de modo a que conseguisse visualizar-me e bem assim acompanhar melhor a brincadeira.
A ideia era encostar o transístor ao walkie-talk fazendo parecer que do outro lado, o meu, os sons emitidos fossem efectivamente os dum transístor.
Com a malta toda à minha roda, liguei o walkie-talk e este começa a debitar música, sendo que se tratava da emitida pelo transístor em posse do Camacho.
Disse-lhes então que tinha de ir a casa e afastei-me. Fui ter com o Camacho e disse-lhe que fosse ter com eles, trocando nós de posições.
“Oh malta, encontrei agora o Kim e vejam só este rádio que o gajo me emprestou!”
“Liga lá essa gaita, que está a dar “Quando o telefone toca”!
Camacho liga o rádio e para gáudio de todos, Roberto Carlos encantava.
Duas ou três músicas depois … “atenção senhores ouvintes! Interrompemos o programa para informar que foi assaltada uma ourivesaria na Amadora. A Policia Judiciária está já no encalço do presumível assaltante, conhecido pelo nome de Zé da Viola. Logo que tenhamos novos elementos interromperemos de novo a emissão.
Zé da Viola impulsionado por forças nervosas rodopia duas ou três voltas sobre si mesmo e dispara incertezas. “O quê? O que é disseram? Falaram no meu nome? Assaltei uma ourivesaria? Não acredito!
Em frente, escondido no prédio, eu gozava o panorama. Encostei o walkie-talk à boca e … “mais uma vez informamos que a P.J. procura o assaltante duma ourivesaria na Amadora, conhecido por Zé da Viola. A todo o momento se espera a detenção do perigoso assaltante” .
Zé da Viola solta um chorrilho de impropérios e … “oh malta, eu juro que não fiz nada”. Eu ouvia tudo, porque o Camacho carregava no botão para eu poder ouvir o que diziam. Passaram-se largos minutos de medo e todos os amigos que ali estavam iam tecendo considerações tentando acalmar o revoltado Zé.
Uns minutos depois … “voltamos à noticia do assalto na Amadora, temos indicações que um segundo assaltante, de seu nome Kim, também está implicado no assalto. A P.J, procura agora os dois facínoras. “ E continuava a música.
Eu estava esgotado de tanta emoção. Saí do meu buraco e dirigi-me à malta. Uma vez ali chegado, Zé corre para mim e com ar paternalista diz-me : “Kim! Tens de ser forte para ouvir o que tenho para te dizer.” Com ar de assustado, perguntei o que se passava.
“Olha, somos procurados pela Polícia. A rádio está farta de falar no nosso nome e diz que assaltámos uma ourivesaria. Vamos entregar-nos”!
Durante alguns minutos alimentei-lhe a cumplicidade da inocência, mas depois …
O Zé estava tão nervoso e nem acreditava que tinha sido uma brincadeira minha.
Passava já da meia noite e quando o tema central da conversa era ainda a cena do assalto, num televisor atrás de nós onde passava um programa de fados, ouviu-se o seguinte: “… e agora, à guitarra, Carlos Paredes e à viola …”
“O quê? Viola? Falaram de mim? Está a dar o assalto na televisão?
Zé da Viola demorou a recompor-se!
OH! KIM!
ResponderEliminarTINHA QUE SER ARTE TUA.
VOCÊ REALMENTE ERA (OU É) SEM JUÍZO.
VOCÊ TEM TANTA CRIATIVIDADE QUE JUNTO COM O JC, PODIAM ESCREVER UMA NOVELA, UMA COMÉDIA, OU COISA A FIM.
JÁ ESTAVA COM SAUDADES DAS TUAS CRONICAS DO PASSADO.
BEIJOS E SAÚDE.
SPUK
ADOREI :)))))
ResponderEliminarCaro amigo Kim;
ResponderEliminarComo diz o povo... "Esta não lembra ao Diabo".
Quase matavas o teu amigo Viola do coração... mas que dá para rir,... lá isso dá.
E como diria o Roberto Carlos numa das suas canções;
"O que foi felicidade...
Hoje mata de saudade,
Velhos tempos...
Belos dias".
Um abraço
Se a esquina da
ResponderEliminarRua Pedro Franco FALASSE
Tinha montanhas de
Histórias para contar.
O.R.
Mentira piedosa ? Coitado do Zé da Viola !!!
ResponderEliminarFartei-me de rir com esta história !
Continua a nos contar a tua juventude e ainda vais preso....! :-)
Se quiseres ver um exemplo de felicidade malgrado a aversidade, vai visitar o meu cantinho.
Beijinhos verdinhos
Sacana!A partir de hoje,não te viro mais as costas.
ResponderEliminarE eu que te tinha em boa conta!
Abraço do Pé descalço.
Fiz muita malandrice mas, isso nunca fiz...
ResponderEliminarPunha sal no tapete das portas...
Telefonava a dizer que tinha falecido parentes.
Atava as portas do mesmo andar, uma á outra que ninguem conseguia sair.
Gatos que apanhava na rua e punha nas varandas do rés do chão..,
Também jogava á carica com os joelhos no chão, e fazia muita batota...
Chorava junto á porta de mercearia, e a D. Atilde dava rebuçados...
Enfim, bons tempos, nos intervalos estudava e portava-me muito bem...
bela