O DESEJADO, partiu numa manhã de nevoeiro. Lisboa acordou vestida de bruma como se quisesse levá-lo abrigado no seu manto.
No seu último livro publicado - Mau tempo no anal - (Diário de um paciente) André Moa, já meio devorado pelo caranguejo maldito, escreveu isto:
Há quem deixe, como manifestação de última vontade, ordens e regras sobre o seu próprio féretro.
… Era o que faltava pretender impor as minhas ideias mesmo depois de morto.
Concedo a quem quiser fazer o frete de tratar do meu funeral, inteira liberdade de decisão. Tanto me faz ir de burro como de cavalo, vestido ou nu. Tanto me faz apodrecer numa valeta como num mausoléu. É-me indiferente, depois de morto tudo me é indiferente, ser enterrado ou cremado, que façam de mim uma múmia ou espalhem as minhas cinzas num roseiral ou numa estrumeira. Quero lá saber de missa presente ou padre ausente. Isso fica a cargo e a gosto de quem ficar com a incumbência de me remover.
É isso que desejo que de mim façam na hora de se desfazerem de mim. O que bem lhes apetecer. Quero lá saber, já estarei morto.
O que eu verdadeiramente desejava, era não morrer nunca.
Estaremos sempre contigo - GT
"dorme que ainda a noite é uma menina, deixa-a vir também adormecer"
Meu querido amigo!
Tu que ... "partiste tão cedo desta vida, descontente, repousa lá no céu (?) eternamente". Não André, não vais morrer nunca. A tua imagem, os teus cantos, a tua prosa, a tua Tabuaço, ficarão sempre comigo. Lembrar-me-ei de ti quando o xisto me encontrar e as guitarras trinarem.
Foram curtos os dias que cruzaram as nossas vidas, mas foram tamanhas as emoções vividas, com a tua alegria de viver, despida de ufanismos, tal a extensa lista de dotes em ti desbravados.
Tiveste o condão de unificar um punhado de gleba que se ia perdendo nos etéreos caminhos da virtualidade sem talvez daí passar.
Por isso, pela resiliência que pautou a fase final da tua vida, pelo exemplo de coragem que a adversidade fez vingar em ti, guardarei da tua imagem o hedónico de cantos tantos, que a madrugada nunca mais cansava.
Meu querido André! Tu que não gostavas de lamechices e tão pouco te importava a morte, quererias um epitáfio despojado de palavras vãs, antes incisivas e veras - cheguei, vivi e parti. Nada mais!
Parte em paz, amigo!
Encontrar-nos-emos um dia! Lá longe, ao cair da tarde!
Abreijos (como tu dizias)
O corpo está na Igreja de Benfica e o funeral realiza-se amanhã às 13:30 h para o cemitério dos Olivais.